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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

No Silêncio do Seu Quarto

Um adeus daqueles


Senti o seu toque intenso de dedos quentes que caminhavam pelo meu corpo pausadamente, como se fosse à forma mais delicada de tocar uma bela pétala de orquídea rara. Enquanto a noite se mantinha, o breu do seu quarto fazia com que a lua cobrisse nossos corpos com o seu brilho iluminado que ultrapassava a janela aberta. Ao passo que você me despia, seus olhos penetrantes invadiam os meus, eu era preenchida pela satisfação e prazer envolvente dos seus lábios, do seu toque, dos seus abraços.
Invejo a idéia de esquecimento, porque conservo as lembranças e a readquiro sem grande esforço o momento que passei junto de você. Hoje já não vivo as minhas segundas-feiras normalmente.
Ainda que pareça ingenuidade ou mero desvio de imaturidade, escrevo a você para que conheça o que a sua presença provocou em mim.
Não me faço de fraca, sonhadora, idealizadora ou talvez utópica. Mas é sensível perceber que o meu equilíbrio é você. Acho incrível o seu senso de humor, a sua maneira afetuosa, e a sua personalidade. É invejável como a felicidade me preenche, depois de tanto tempo sem tê-la repousada dentro de mim outra vez. Quando você me diz que as suas objeções encontram em mim suas respostas, eu enrubesço.
Anseio seus beijos, por que neles encontrei o doce sabor da paixão, desejo seu corpo porque nele descobri o equilíbrio, anelo seus sonhos por causa dos meus objetivos, aprecio suas particularidades, por que partes delas já são minhas características.
Não disponho de argumentação necessária para transformar a sua decisão de distanciamento, porém se a distância é o nosso destino, que ela aconteça.
Espero que futuramente isso não caracterize arrependimento tardio, ou que classifique uma decisão precipitada, calcada em um medo imprevisível de atitudes preconcebidas.
Seja feliz, busque realizar seus objetivos, ame mais, pratique o desprendimento do medo. Se um dia você pensar que errar é um caminho árduo, por que pensando bem terá que refazer suas atividades, peço que não desista, não se subestime. Somos capazes e dotados de inteligência, confie mais e seja amável. "O maior erro que você pode cometer é o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum." William Shakespeare. E lembre-se de mim, como a pessoa que estava aprendendo a amar você. ”Para suportar a tristeza basta um, mas para desfrutar a felicidade são precisos dois." Elbert Hubbard.
Um adeus, daqueles de abraço apertado, sorriso largo, regado com lágrimas mornas.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Até a uva passa


É nessa noite calorosa de um verão iminente que de um suspiro eu me atrevo a escrever como tenho passado esses dias largos e monótonos.
Por aqui está uma rotina sem esquadrilhas, sem um plano restrito é tudo diferente, algo imprevisto. As aulas acabaram, o estágio acabou, estou tão confuso. Já chegam até mim as mensagens natalinas, os votos de próspero 2011 e a constante afeição entre a família. Vejo pelas ruas, casas iluminadas, apartamentos com luzes e o comércio com suas ruas e vagas de estacionamentos lotados. Ouço Jovanotti e estou triste. Sinto um desequilíbrio momentâneo, uma desatenção conhecida e uma preocupação de encontrar um colo pra ficar ouvindo detalhes de RC.
Talvez esse seja o meu último texto do ano, e um dos piores. Há tempos que não escrevo por aqui e há tempos que eu não sinto animo para fazê-lo. Que vergonha dizer isso, mas tenho que ser honesto.
Queria escrever aos meus amigos – todos. Dizê-los que os amo e que foram importantes para mim nesse ano que está acabando, desejá-los feliz natal e um ano novo cheio de realizações agradáveis. (Faço por aqui).
Poderia fazer o balanço de 2010, dizer que foi o último ano da graduação, o ano que consegui a vaga pro mestrado, o ano que fiz novas amizades e que sinto falta do contato com a Mariann, acho que ela já se esqueceu de mim.
Conheci a Verônica e a Ângela, duas colombianas intercambistas super legais. Conclui o Tcc, Acabou.
Bom, apesar de tudo, espero que os votos sejam realidade, que tudo fique melhor e que eu consiga alcançar os meus objetivos. Obrigado Deus, por me ajudar e obrigado amigos por tudo. Tudo passa, até a uva...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Te extraño


Hola Mariann

Hoy hace una tarde muy linda por aquí. El cielo es azul y hay pocas nubes blancas y tengo muchas ganas de saber como estás. Estoy sufriendo con tu ausencia y no recibir ninguno email tuyo es un martirio. Tal vez sé que pasa, pero no puedo afirmar si es correcto o no.
Sé que la noticia de mi viaje a México le causo daño, pero no pudo evitar. Tengo que arrollar dinero para vivir los primeros meses en otro estado porque no tengo como ir se no hacer. Quisiera que supieras que no quiero alejarme de ti y ni perder esta conexión que tenemos.
Mariann, vivo los días con miedo y la ansiedad que llene mi corazón es grande. Me duele saber que no me comprendas por todo que me sucede, sé que tienes muchas cosas que hacer en cotidiano, pero me alegraría recibir un email tuyo.
Esta nueva fase de mi vida, en otra ciudad me alegra y estoy motivado a lograr vivir en otro estado, pero también estoy triste de largar todo aquí.
La decisión de no viajar a México fue difícil, porque se que me gustaría muchísimo. Pido a Dios que esa oportunidad vuelva y que pronto yo la encuentre para hacernos juntos todos nuestros planes.
A veces me pregunto porque las cosas suceden de esta manera y mi futuro es tan lleno de piedras que siempre pienso en desistir. Mi mamá estas bien, Hosana ya logró un empleo y creo que pronto ella va a terminar la universidad. Terminé los trabajos en la universidad y pronto estaré formado, solo falta salir la nota de mi trabajo de conclusión de curso, las otras notas salieron me fue súper.
Extraño a ti y la comunicación que teníamos, ya escribí a ti en twitter y en email, pero nada me contesto y esto me entristece.
Pido que me comprendas y no me regañe.
Hoy me llamo una chica para que yo hácese un teste por teléfono, estoy buscando una vaga en IBM para arrollar dinero. Creo que me salí bien, pero no lo sé, me quedé nervioso. Pido el mejor a Dios.
Ya no tengo nada a hablar, solamente pido a ti que no se aleje de mi, necesito de ti. Espero que estés bien, un beso. Cuídate. 123.

sábado, 27 de novembro de 2010

Troca de cartas


Olá correspondente de Pirassununga!

Recebi mais uma de suas cartas ontem e por aqui está um período típico de final de semestre, finalização de provas e trabalhos da faculdade. Eu estou muito bem, obrigado e motivado para o ano que vem. Li que você é estagiário e sei muito bem como é a remuneração de tal oportunidade. Sou estagiário na Agemcamp – uma autarquia do estado de São Paulo que tenta desenvolver a região metropolitana de Campinas, um órgão vinculado a Secretaria de Economia e Planejamento de São Paulo. A região metropolitana de Campinas é composta por dezenove municípios e a cada ano precisa de incremento e aplicação de políticas públicas. Termino no mês de dezembro o meu estágio lá, e a partir daí eu pretendo, também, procurar um emprego.
Sobre as eleições eu devo dizer que fiquei muito feliz com ela. Apesar de eu ser um pouco apolítico eu acredito que será uma oportunidade do país crescer ainda mais. Sobre o ponto de vista de ser uma mulher, acredito que o Brasil fez uma excelente escolha. Devo dizer sobre o Exame Nacional do Ensino Médio que acompanhei superficialmente, porém foram dois anos seguidos com erros e descontentamentos dos estudantes sobre o exame. A respeito do preenchimento do gabarito, quando prestava o vestibular eu também era torturado por ele, não me simpatizava muito. Espero que você seja beneficiado com a segunda avaliação do exame, torço por isso.
Vou responder as suas perguntas, achei uma maneira simples e rápida de saber um pouco mais de mim, acredito que adotarei a sua estratégia e farei o mesmo. Segue assim:

1- O que você acha da política em nosso país?
Como eu escrevi anteriormente, e me envergonho de admitir, eu sou um individuo desligado, porém acompanho o que acontece no Brasil sem grandes discussões aprofundadas sobre o tema. Sou mais um no senso comum.

2- Você gosta de ser brasileiro?
Gosto bastante de ter nascido no Brasil, acho um pais rico em diversos aspectos. A beleza e a diversidade natural, a cultura das diversas regiões, os sotaques.

3- Que tipo de livro você gosta de ler?
Eu divido o meu tempo em livros, músicas, filmes e saídas noturnas, ultimamente tenho lido pouco, mas dos livros, os meus favoritos são de J.K. Rowling, Jane Austen, Florbela Espanca, Vinicius de Moraes, Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector entre outros.

4- O que você acha dos Americanos? Dos Estados Unidos?
Eu não sou uma pessoa que se possa fortalecer um discurso aprofundado sobre os EUA. Conheço pouco. Acredito que é um dos povos mais trabalhadores do mundo, uma hegemonia reconhecida, porém não me simpatizo com o modo de vida americano, as músicas de massa e a preocupação de ser soberano ao mundo.

5- Você já sofreu algum tipo de preconceito?
Sim, já sofri. Mas penso que é difícil ninguém ter sofrido nenhum. A sociedade é tão diversificada e algumas pessoas, más esclarecidas, preferem o modo de vida igual, não estão preparadas para as diferenças.

6- Qual é o conceito que você tem de religião?
Fui procurar no Google uma definição de religião que eu adotasse como uma definição exata. Encontrei essa: “Na Crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal.” Acredito que a religião não importa, o que é essencial é em que você acredita. Eu acredito em Deus e sempre Ele está comigo me ajudando, há momentos difíceis, há momentos felizes. A nossa vida é recheada disso, para que nós nos desenvolvemos e um dia possamos ser evoluídos. Religião pra mim não é rótulo, é crença, é fé em um ser supremo, nosso Pai, Deus.

7- O que você gosta de fazer em suas horas vagas?
Eu gosto muito de escutar músicas, gosto de escrever no blog, gosto de dormir, de caminhar, de sair pra dançar.

8- Que lugares no Brasil você quer conhecer?
Gostaria de conhecer o sul do Brasil e o nordeste, tenho amigos no norte e gostaria de visitá-los. Pará, Florianópolis, Uberlândia, Amazonas, Acre.

9- O que você pensa da homossexualidade?
Acredito ser apenas mais um rótulo social, para que a nossa sociedade possa dividir as pessoas. Uma atitude hipócrita e deficiente.

10- De gays adotarem filhos?
Para mim seria ideal e justo adoção aceita por homossexuais. Como é aceita adoção por heterossexuais.

Espero ter alcançado as suas expectativas sobre as minhas respostas, eu sou um jovem despreparado e não disponho de uma opinião aprofundada sobre tais assuntos, tão polêmica atualmente. Por ora eu não tenho muito que dizer, eu apenas espero que em breve eu consiga um emprego, estudar mais um pouco e construir uma nova fase da minha vida.
E sobre você, gostaria que me escrevesse sem parâmetros, gostaria que me dissesse seus sonhos, seus planos, como vive com a sua família, que músicas você ouve ultimamente e quais são seus filmes preferidos.
Boa semana para você, seja feliz e pense que se você acredita e planeja um caminho, ele acontecerá. Acaso isso não seja feito, o melhor está por vir, tenha paciência e viva da melhor maneira possível. Curta seus amigos, a faculdade, os momentos sozinhos, e converse um pouco com Deus.
Um abraço e até a próxima.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Desenhando sorrisos


É noite de uma terça-feira de primavera e ontem choveu muito por aqui, mas nada amenizou o calor que provoca a motivação dos animados a um happy hour com amigos do trabalho no fim de tarde.
Permaneço em casa catando pensamentos nutridos pelas músicas que me fazem bem. Não me apetece as últimas aulas do semestre, tampouco os últimos dias no estágio. Tenho um desanimo saboroso circulando por aqui, tomar banho demorado e colocar o pijama às sete da noite me parece tão ideal. Pela janela o vento se torna taciturno e a noite se tornaria imperceptível se ocultasse a escuridão. Escrevo algo sem nexo, soletro letras paisanas que compõe frases distintas. Não sei dizer como, mas acontece me abastecendo cotidianamente. E o céu permanece estrelado, às ruas luminosas, as casas por onde passo, as lojas que me deparo estão sendo coloridas por vermelho típico e um dourado reluzente, há papais noéis nas redes de proteção dos edifícios e suponho que em breve haverá campanhas de vendas de cartões da AACD.
Por que às vezes é incomodo desconhecer as previsões do futuro e ignorar os planos traçados como previsto sendo difícil assumir que você não tem um plano b? A incógnita do planejamento é atormentadora. Enquanto os outros discorrem em um discurso pacifista, você se mantém internamente enlouquecido. Busco me alicerçar em uma teoria didática, metódica, mas ela não está funcionando agora, e se me perguntam por aonde vou, fico desequilibrado, parto pra um norte que reprimo uma bússola eficaz, e o ponto final me parece reticências. Eu estou tentando remar o meu barco, estou tentando fixar o pé no chão, estou tentando não cair no buraco... Tão parecido com a música da Paula Toller – “Eu tô tentando”.
Pensando bem, esse estado de espírito não é tão mal assim, é um momento em que você para e não se importa se os ponteiros do relógio girar, rápido ou lento, você é solitário em pensamentos e isso é saudável.
E agora vou desenhar um sorriso largo e deixar Mario Quintana falar por mim:

“Por favor, não me analise.
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...”

sábado, 6 de novembro de 2010

Flutuo


Novembro chegou por aqui trazendo as águas de um verão próximo.
Sinto vontade de cantar pra você as melhores músicas, que por mim são ouvidas, que descrevem a sustância do ser humano, a beleza da felicidade. Gostaria tanto que você as compreendesse, assim apenas ouvindo representando fielmente o que penso quando, aqui parado, eu flutuo. E essa aqui abaixo se chama "A te" quem a canta é um italiano chamado Jovanotti. Uma das minhas preferidas.

A você que é a única no mundo
A única razão para chegar bem ao fundo
De cada respiro meu quando te vejo
Depois de um dia cheio de palavras
Sem que você me diga nada, tudo se faz claro

Pra você que me encontrou na esquina com os punhos fechados
Com as minhas costas contra o muro pronto a me defender
Com os olhos baixos estava na fila com os desiludidos
Você me acolheu como um gato e me levou contigo

Para você canto uma canção, por que não tenho outra coisa
Nada de melhor para te oferecer
De tudo aquilo que tenho, pegue o meu tempo e a magia
Que com apenas um salto, nos fará voar pelo ar
Como bolinhas de sabão

Para você que é, simplesmente é, essência dos meus dias

Para você que é o meu grande amor
Para você que pegou a minha vida e dela fez muito melhor
Para você que deu sentido ao tempo sem medi-lo

Para você que me ensinou a sonhar e a arte da aventura
Para você que acredita na coragem e também no medo
Pra você que é a melhor coisa que me aconteceu
Para você que muda todos os dias e se mantem sempre a mesma

Para você nunca se agrada e é uma maravilha
As forças da natureza se concentram em você que é uma rocha, uma planta, é um furacão
É o horizonte que me acolhe quando me afasto

Para você que é a única amiga que eu posso ter
O único amor que queria, se não te tivesse comigo
Que consegue produzir no cansaço um imenso prazer.

domingo, 17 de outubro de 2010

Uma carta de amor, ridícula.

É madrugada de sábado, a noite é silenciosa por aqui e os ponteiros do relógio adiantaram-se em uma hora. Hoje eu começo com algo que espero saber dizer completamente. Sinto vontade de ter você em meus braços e o desprazer de não conseguir é aterrorizante, ouço a saudade melindrosa fazendo melancolia. Nessa noite larga sinto a sua ausência e em noites como essas, eu careço da sua presença. Por fim rompi a carapaça que me privava de externar o meu sentimento por completo, me desvencilhei do medo de declarar o meu amor, por simples medo de perceber que a coragem me faltava.
Sinto uma conhecida sensação que Neruda descreve em seus poemas, que Vinicius narrou em seus contos, sinto a felicidade agora, clara, nítida e tudo soa tão belo, tão suave, é indescritível. Ainda não sou dotado de tais argumentos para delinear a alegria que preenche o meu corpo quando você está sobre ele, quando nos vemos, ou apenas quando ouço a sua voz ao telefone. Sinto-me envolto a uma telepatia cotidiana, repentina e agradável. Sinto que devo romance a você, que falhei por não expressar as minhas frustrações ocultas, de um mero jovem desencorajado pelos tropeços do passado, pelas cicatrizes do caminho tortuoso do amor; porém hoje me sinto abastado de coragem e ternura pra dizer a você que me conquistou por completo, da minha essência; você captou o mais perfeito, do meu lado ruim; você respeitou e silenciou-se, me deixou livre, me fez elo, me faz feliz.
Por ora, tudo seria tão redundante, tão previsível, porém, isso não são desculpas para que eu deixe algo flutuando; mereço ser explicito, refinado a um toque sutil, de algo entrelinha, dos meus gostos, das nossas alegrias.
Prefiro ser ao seu lado, prefiro sentir a saudade, a não senti-la; comovo-me por saber que você me encontrou, que dos mais comuns, eu fui o escolhido; daqueles que buscam o amor, eu o encontrei. Sim! Existe. E se me foge as inspirações, ainda terão os seus abraços para me aquecer e os seus lábios para me inspirar, meu refúgio em noites perturbadas, meu caminho em dias nebulosos, meu prumo.
Sinto-me forte para dizer que são os seus olhos que quero que me olhe, que quero suas palavras a me elogiar, e dos seus cuidados para me devolver o equilíbrio. E se todas as cartas de amor são ridículas como já escreveu Álvaro de Campos, essa não será menos ridícula, por que nela é nítida a minha insanidade, a minha alegria e o meu amor por você.


“É assim que te quero, amor,
Assim, amor, é que eu gosto de ti,
Tal como te vestes
E como arranjas os cabelos e como a tua boca sorri, [...]

Chegastes à minha vida
Com o que trazias, feita de luz e pão e sombra,
Eu te esperava,
E é assim que preciso de ti,
Assim que te amo,
E os que amanhã quiserem ouvir
O que não lhes direi, que o leiam aqui.
E retrocedam hoje porque é cedo
Para tais argumentos. [...]


Amanhã dar-lhes-emos apenas
Uma folha da árvore do nosso amor, [...]

Para mostrar o fogo e a ternura
De um amor verdadeiro”.

Pablo Neruda

sábado, 9 de outubro de 2010

Desapego

Vamos fazer uma faxina, desapegar das roupas velhas, das coisas que já não nos cabe. Retirar o pó das fotografias, sentir o cheiro agradável de limpeza. Vamos aproveitar pra ligar aos nossos amigos, avisá-los que estamos bem e deles sentimos falta nessa agitada rotina cotidiana. Proponho que apaguemos os dias cinza e enxerguemos o sol que nasce pela manhã de maneira nova. Tomar como desafio os problemas inevitáveis. Inventemos um novo caminho, poupemos de restituir o cristal quebrado, por ora, abandoná-lo-emos e viveremos aqui um novo dia. E vamos sorrir mais, agradecer e pedir, por favor, a cada pedido iniciado. Vamos viver na delicadeza e demonstrar o respeito tão escasso. Espero ansiosamente tornar o nosso dia mais fácil, menos triste. Vamos todos sorrir após o bom dia, mesmo aquele dado sem intenção, por puro responder.
Hoje o sol nasceu e iluminou o céu azulado entre poucas nuvens brancas, a terra secou e já começou a vida das plantas novas, do ser humano motivado, de nós, reles mortais. As árvores estão agitadas pelo toque do vento e esse é o ponto de renascer. Vamos partir daqui, motivados por nossa vontade sem esperar uma perspectiva dada. Por favor, não se destruía mais, diga: “Eu posso, eu vou ser, tudo é possível”. Vamos caminhar um pouco, enxergar a nossa vida de maneira saudável e com perspectiva, criar novos caminhos. Confio em você, me chame para compartir nossos planos, para rir, pra chorar e voltar a sorrir, por que não estamos sozinhos.
Vamos agradecer a Deus, pedir coragem e iniciativa. Vamos despejar a preguiça e o cômodo.
Escute as melhores músicas, saia pra dançar, divirta-se. Planeje o seu cotidiano, faça metas, escreva uma carta, sorria, dê prazer, faça carinho, seja educado e tudo será conseqüência. Viva!
Somos feitos de relacionamentos, seja afetivo, não seja individualista, não imponha a sua opinião ditatorial, escute, seja flexível. É inevitável a ira em algumas circunstâncias, mas isso não dá créditos para fortalecer a situação nefasta; respire, pense, a ajuda é bem vinda e um olhar raivoso, uma palavra dada com rancor ou apressada de mal grado é destrutiva é sufocante. Seja menos cínico, menos irônico. Havendo discordância, posicione-se de maneira diferente, faça um hábito, silencie-se! Não promova a discórdia, não há vencedores entre tal disputa estúpida.
Hoje comprei flores, fui feliz ouvindo músicas, liguei para os meus sobrinhos e disse a minha mãe o quanto ela é importante na minha vida.
Agradeço a Deus por ter mais um dia e a alegria dentro de mim.
Obrigado amigos, por ser tão fundamentais no meu desenvolvimento e desejo a vocês, a felicidade instantânea, pelo modo simples de ser felizes, das coisas simples, daquelas que não podemos possuir por simples gesto de comprar, aproveitemos o final de semana, cada um com a sua forma de realizar-se. Vamos ser felizes. Saúde e paz, iniciativa e entusiasmo para seguirem eretos e firmes. E o amor é algo belo, que temos que disseminar, é um ato que preenche o homem que oferece, e contagia ao que recebe. Vamos nos contagiar de afeto e busco sorrir pra você, de maneira que eu consiga transmitir essa alegria entre meus lábios, aqui.

sábado, 2 de outubro de 2010

Adormecendo a razão

Escrevo em uma noite chuvosa de sábado sentindo os ruídos lentos dos meus pensamentos. A chuva cai incessante e tornam esses dias um pouco melancólicos. Caminhei essa semana com jeans e moletom de capuz por um solo encharcado, pintado de marrom escuro, meio enlameado. Fiquei frustrado com as provas da Anpec e ando desanimado, recheado por um futuro sem perspectiva. Ligeiramente confuso, um pouco medroso. Talvez eu esteja olhando o mundo por lentes embaçadas, sofro de miopia e ela pode ser a culpada por distorcer também a realidade, talvez eu apenas precise calibrar a minha serotonina, por ora um chocolate ao leite deverá resolver. Penso nas piscadelas que dou e não sou dotado de exatidão a contá-las, são livres os minutos para retroceder ao passado, viajo entre ele e o presente, por que agora me limito a entender somente esses dois tempos. O futuro espera ansioso mascarado por uma película fina de criança inocente.
Às vezes o óbvio não me apetece e os detalhes me traduzem. Meu sorriso é ligeiro, minha atuação é engessada, padeço de um estado de calmaria pressionada, porém o bode expiatório é inexistente, por aqui não há sentenças, não existem culpados. Sou eu e meu silêncio brincando como adolescentes apaixonados. Há ausência de palavras, resta um espaço aqui dentro, que é difícil definir, não é exato. Então concluo que me vou encontrar entre cobertores e duplos travesseiros, adormecendo a razão e me aventurando nos sonhos nesse fim de noite.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Y hoy no hay sol

Hoy siento ganas de escribirte. Hace tiempo que eso no me ocurre, pienso que es por la culpa de mis miedos, quisiera ser fuerte, pero soy frágil. Soy cristal y por adentro tan quebradizo como a ti, lejos de mí.
Estos días llueve mucho y no hay sol, no hay cielo azul. Estoy tan cansado, la alegría no me toca, los ánimos están distantes, ni los veos más, ya los extraño.
Acuerdo hoy de la canción de Arjona - Acompáñame a estar solo y Toma mi mano de Belanova. Ah! Por Dios. No sé remplazar en palabras que siento, es como se mis ojos no quisiera mirar el día, solamente mi habitación obscura.
Ahora la noche esta a camino y en minutos la oscuridad se acerca de las casas y trae un poco de frío. No imagino miradas cercanas ni toques lentos, la magia se fue y en mis sueños se esfumaron o quedaran todos sobre la almohada.
Sabes, estoy tan desarmado, poco a poco pienso cosas que quedo con vergüenza de mi mismo, creo que esto llegara al fin, es solamente una fase, que pronto pasará. Y lloro sin saber por que rolan. Suele suceder, en estos días grises.



“Acompáñame a estar solo
A purgarme los fantasmas
A meternos en la cama sin tocarnos
Acompáñame al misterio
De no hacernos compañía
A dormir sin pretender que pase nada
Acompáñame a estar solo
Acompáñame al silencio
De charlar sin las palabras
A saber que estás ahí y yo a tu lado
Acompáñame a lo absurdo de abrazarnos sin contacto”



“Si todo está mal
Y no puedes más
Puedes buscarme
Sé que tú en mi lugar
Lo harías también
Sin pensarlo
Sé que duele caer
Yo ya estoy aquí
Para ti
Como ayer
Como hoy
Sabes que
Puedes buscarme”

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Hasta que llegues tu

Ainda é primavera por aqui, mas a manhã nasce tão atípica hoje. Sobre mim vejo um céu de muitas nuvens cinza, um ar frio que atinge sem respeitar, uma garoa fina cobre as pessoas que se apressam pelas calçadas. Olho pela janela e não tenho gana de levantar, a cama é um refúgio, sobre lençóis em listras horizontais e dois confortáveis travesseiros eu penso em você.
Pediria que valesse da vontade dos meus sonhos de permitir sua presença por aqui, por que me sinto tão desamparado e não me apresento fiel à coragem, estou indefeso, fragilizado. Eu preciso dos seus abraços, das suas carícias lentas, preciso do nosso silêncio compartido. Preciso dos seus olhos, preciso que me olhe. Resvale seus braços nos meus e os deixem brincar unidos. Olhe meus olhos a centímetros e me farei um perdido entre seus olhos azuis. Use suas mãos para caminhar entre as raízes dos meus cabelos curtos, acaricie as minhas costas e me beije sem pressa; assim, procurando tocar a minha alma. São dias assim que me sinto tão frágil, sem palavras pra buscar solução, o silêncio promove a minha cumplicidade e eu o trato tão bem. Penso que por enquanto eu não conseguirei voar, guardei as minhas asas em um armário escondido, por ora eu quero caminhar subordinado às sombras de noites iluminadas, de mãos dadas, sentindo o meu apoio. Sinto-me música em solo de piano, insisto na previsão de dias inacabáveis, me torno uma má companhia, até você chegar e aclarar o meu mundo tenebroso. Concordo de modo pleno com Vinícius de Moraes: “... Deveria chamar-te claridade pelo modo espontâneo, franco e aberto com que encheste de cor meu mundo escuro..."

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Poco, casi nada.


“Sou o jovem de lóbulo colado, míope e imediatista; de sobrancelhas negras, ralas. Feliz por dentro quase sempre, porém às vezes o constante não é uniforme.
Sou míope, saudosista, divertido, taciturno. Sou tudo, sou nada.
Presenteio com música, comovo-me quando elas expressam meu sentimento, tudo ali na letra, na melodia... Alegro-me, me divirto, gosto de sorrisos de verdade, sou gentil, no mínimo cortez, flutuo em pensamentos, escrevo para registrar, para não me esquecer”

“I am the young of glue, myopic and fast lobe; of eyelashes, blacks, thin. Happy on the inside almost always, however to the times the constant is not uniform. I am myopic; I feel homesicknesses, amused, been silent. I am everything, I am nothing. I give gifts with music, I am touched myself when they express my feeling, everything there in the letter, in the melody… I am happy, I have fun myself, taste of truth smiles, am gentile, at least respectful, I float in thoughts, I write to register, for not forgetting me”

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Gérberas e Tulipas pra setembro

Setembro chegou pintando as calçadas de roxo com amoras maduras, fazendo tapetes de flores às sibipirunas gigantes. Por aqui o sol se faz tímido no começo da manhã e o vento sopra preguiçoso. Caminho por ruas, repletas de ipês lilases, pensando no seu sorriso de covinhas paralelas e rabiscando em um “post-it” as minhas flores pra setembro, das gérberas salmão e das tulipas brancas, das minhas preferidas eu as ofereceria a você.
Os pés de jabuticabas estão carregados, alguns já se vêem pretíssimos outros ainda verdes, as folhas de hortelã aqui do quintal estão preparadas para navegar em um copo de suco refrescante de abacaxi e há meses que não recebo notícias suas.
O clima por aqui mudou um pouco, o frio já se distanciou das ruas por onde passo, a faculdade está no final de um filme de longa duração e parece tudo tão nostálgico. Eu ainda sofro de ansiedade e ainda sou imediatista, prefiro receber um e-mail seu com freqüência de semanas, do que não os receber. O trabalho mudou um pouco, assim como o tempo. Estou em um outro setor, organizando a minha rotina, desenvolvendo a minha produção.
Escrevo para você com o objetivo de me informar sobre o seu dia, sobre os seus planos, sobre o seu cotidiano. Embora eu não tenha muita coisa a dizer e o que me falta é a consciência de ser prudente, eu não agüento de saudade e isso reflete no meu estado de ânimo, logo eu um ser tão insensato. Apenas quero fazer perto a minha presença distanciada.
Sinto falta do futuro, parece tão irreal isso, mas é do futuro que pensei um dia existir, e parece que ele nunca chega e se alarga pra frente. Eu não o alcanço! Dos bares que freqüentaríamos, das noites que cantaríamos, o que mais sinto falta são dos telefonemas que trocávamos, dos livros que líamos, dos cafés que imaginei tomar com você.
Espero que esteja bem e que o tempo seja movido às tarefas do trabalho, que seja rápido e seu poder forte, logo ele conseguirá, logo fará com que você se esqueça completamente de mim. “Hoy te echo de menos”.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Entroncamento


Já passava das seis e eu acordei com um par de olhos azuis me observando, senti percorrendo pelo meu rosto toques de dedos macios e fui flagrado por um sorriso maroto que retribui com um bom dia de sorriso acanhado e em minutos comparti uns pares de mini beijos sortidos.
Era uma manhã de céu azul, sol tímido e envolto por um vento sapeca que esfriava o meu corpo, bagunçava o meu cabelo e provocava a imensa vontade de ficar abraçado a você. Sinto como se estivesse vivendo há dias o caminho da distração, o tempo ao seu lado é acelerado, como se os ponteiros do relógio disputassem entre si quais girariam 360º mais rápido. E não é possível esquecer como foi aconchegante, amoroso e perfeito a nossa primeira noite juntos. Meus lábios encontraram os seus em um movimento delicado, senti o meu corpo arrepiar, a minha pele formar picos e me imaginei como um gato bravo em posição de ataque. Sou um desbravador que me aventuro por cada canto longínquo do seu corpo e é tudo tão lindo porque você tem alegria e sabor, reconheço no seu olhar o brilho palpável da felicidade e me sinto um anjo por trazer de longe algo tão celestial. Desenho o menino de palito em uma folha branca e convido você para colorir esse mundo que é tão instável e imprevisível, penso no seu cotidiano entre minutos, das nossas rotinas, nossos deveres e concluo que o seu amor pra mim é importante, seu sorriso é o meu presente. Penso em você me beijando a todo instante e isso pode parecer tão redundante, eu enrubesço. Quero voar com você de novo de olhos fechados, beijar ao estilo homem aranha, me perder nas suas costas brancas e sorrir após um beijo lento. Aqui escrevo palavras ditadas por um moço novo, feliz e inocente, cheio de alegria, medroso por natureza. Caço o cheiro suave do seu perfume em partes das minhas roupas e isso alivia a ausência constante que me ataca nesses dias frios de vento gélido. As noites longe de você são monótonas e lentas que nem me apetece adormecer e para brincar comigo o vento sopra a saudade para me fazer companhia. Quando o escuro domina, eu rabisco palavras para tentar explicar como você se tornou importante pra mim em tão pouco tempo, a maneira de como você fala me atrai profundamente, a delicadeza com que você me toca é inexplicável e é impressionante saber que o meu coração é massageado pelo som das suas cordas vocais, se isso não é sentimento, eu não sei dizer como é estar apaixonado. Gostaria que você soubesse que meus dias são permeados de detalhes seus, tenho flashback dos momentos vividos e anseio pelos futuros que virão. A cada momento que planejo algo novo com você sinto me encher de alegria e a ansiedade já é algo comum que tomo em doses homeopáticas.
Ultimamente tem feito manhãs lindas, o céu é azul e há poucas nuvens brancas, o vento vaga solitário por ruas estreitas do meu bairro e eu caminho me sentindo feliz ao acordar sabendo que nós andávamos por ruas paralelas e que hoje ouve um entroncamento imprevisível e imediato.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

À beira do paraiso


Àquela hora da tarde eu quieto espera, o que eu não esperava era reconhecer o amor. Sob sorrisos tímidos e conversas rotineiras, de conteúdo incomum, confortei-me com o seu olhar e fui intimidado pela sua iniciativa. Vacilei várias vezes e perto de você não consegui me explicar, talvez isso seja fruto da sensação de tempestade que vivemos quando algo de muito bom nos acontece, nos deixa paralisado, nos deixa bambo.
Amanheceu e o que passou não foi sonho. Caminhamos por uma rua comprida e passamos por uma passagem secreta, descemos o morro devagar sentindo o vento gelado das tardes de inverno. Parecendo um bobo, eu imaginei as árvores altas dando graças, porque chacoalhavam de felicidade por ver que o menino estava beirando o paraíso.
Recordo da tarde de ontem com alegria, da respiração entre centímetros que compartimos e da sensação de leveza que fiquei ao seu lado. Confesso que a apreensão em instantes tomou conta de mim e a partir dai à ansiedade decidiu comportar-se. A minha alma foi alimentada pelos seletos sentimentos e a paixão me toma por completo e o desejo de ver você é constante, como a respiração que é vital, como as piscadelas que são involuntárias.
Seus olhos, oceanos pacíficos, me cativaram, seu sorriso me devolveu o brilho esperançoso de horas prazerosas. Pesquisei sobre você e percebi que tivemos os mesmos professores, li a maioria dos seus livros, assistimos as mesmas séries, mas onde você estava enquanto passávamos por processos semelhantes? Agora as palavras já são detalhes inviáveis, que só podem ser substituídas quando eu beijo você devagar, onde eu estava? Eu pensei que estava preparado, tinha tudo esquematizado, e você bagunçou tudo. E eu adorei. Talvez se procurasse bem, você estaria nos livros que lemos, nas séries que vimos, nas noites que dormimos separados.
Quero que desperte com os meus versos emprestados, todos envoltos pelo sentimento que você me deu de presente, por isso eu compartilho com você. São eles que me inspiram hoje, nessa manhã fria de quarta-feira e timidamente peço: busque os seus beijos nos meus lábios hoje, eu preciso do seu silêncio me tocando. Não me importa que tudo seja precoce, por que: ¹ "Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões". E aconteceu comigo: ² "Os outros eu conheci por ocioso acaso. A ti vim encontrar porque era preciso". E não seria diferente: ³ “Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem". No silêncio da noite, entre cobertas e sobre uma cama confortável eu beijaria você ouvindo:
“Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar... Ai, que bom que isso é meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar, mas se a luz dos olhos teus, resiste aos olhos meus só pra me provocar.
Meu amor juro por Deus, me sinto incendiar”. E por fim, eu finalizo com o Caio F. Abreu, que representa perfeitamente como me sinto. “Como se tivesse retomado a um anterior estado de pureza depois de muitas marcas”.
_______________________________________
¹ Graciliano Ramos.
² Guimarães Rosa
³ Caio F. Abreu
Pela Luz dos Olhos Teus - Tom Jobim e Miucha.

sábado, 7 de agosto de 2010

Meu velho pai

A benção pai?
- Deus abençoe.

Por aqui é madrugada de sábado e amanhã é o segundo domingo do mês de agosto, é o dia dos pais.
Agora faz frio e o senhor já não nos cobre quando deitamos e nem nos acorda dizendo que nunca viu ninguém indo deitado. Nunca mais acordei com o cheiro de café flutuando da cozinha até o quarto, nunca mais escutei os seus risos contidos e nem vou jogar truco com o senhor pra ganhar dos que atreviam a nos desafiar.
Eu me lembro sempre quando íamos dormir. Eu e a Pi pedíamos a benção para o senhor e para a mãe, o senhor cobria a Pi primeiro, depois eu. Achava tão importante aquilo, era tão emocionante. Nunca chamávamos de você as pessoas mais velhas que a gente, o obrigado tinha um lugar primordial nas nossas conversas, e a benção era um pedido obrigatório para quando acordávamos, íamos dormir, ou saíamos de casa. E por incrível que pareça não me lembro de ser isso imposto.
Pai, eu não esqueço quando brincávamos de esconde-esconde, das minhas crises de adolescente, de querer ver mais televisão, de quando o senhor pedia para que tirássemos as suas meias pretas sociais, fedia chulé! Mas não nos importávamos. E quando o senhor nos trazia paçoca de rolha, comprava canetinhas coloridas e revistinhas para pintar, o senhor repartia o sanduíche feito de pão francês ao meio de uma maneira diferente, apenas sua. Na diagonal. Nossas viagens de trem nas férias eram incríveis, eu corria entre os vagões, era sempre repreendido por me imaginar voando com a cabeça pra fora da janela.
Agora depois de tanto tempo, parece que tudo não aconteceu, não é algo palpável, são lembranças. O senhor já não está aqui e às vezes eu sinto saudades. Como eu não posso comprar um presente, eu resolvi escrever, talvez o senhor leia, ou talvez esteja lendo agora. Ah pai, meninos não choram né? Cuide da sua mãe, eu me lembro disso! Eu não moro mais com a mãe nem com a Pi, nos vemos apenas nos finais de semana. Eu estou morando em Campinas e lá é tão diferente daqui, é mais agitado e não há vizinhos simpáticos, eles não cumprimentam, só se eu sorrir, no máximo um bom dia. Nunca ninguém pediu emprestado pó de café nem açúcar para mim. Estou terminando a faculdade, serei o seu primeiro filho a se formar, há dias que é cansativo e eu gostaria de sentar e conversar um pouco com o senhor. Seria inexplicável se lá de cima do tablado eu visse o senhor e a mãe acenando pra mim, já imaginou? Eu com a beca e o canudo na mão? Pai, eu espero que o senhor esteja bem por ai, e que onde estiver às pessoas sejam legais, eu me arrependo de coisas. Arrependo-me de ter brigado por tontices, deveria ter ficado calado, o silêncio sempre é o melhor caminho a seguir, mas eu não sabia. Eu amadureci, como o senhor era sábio e eu um galinho galizé medíocre. Eu nunca falei isso pessoalmente, acredito que eu ficava tímido, e talvez chegasse a pensar que não soasse bem, mas eu gostaria que o senhor soubesse que eu o amo, muito. Tenho orgulho de ser chamado de Angelo, porque era o nosso nome, sinto vontade de abraçá-lo hoje e desejá-lo um feliz dia dos pais. E se eu escrevesse um cartão, estaria escrito:
“Pai, eu o amo muito, o senhor foi muito importante na minha vida infantil e me ensinou muito na minha prepotente adolescência, mesmo eu não me dando conta a princípio. Sinto a sua falta – Feliz dia dos pais”

Ps.: Ah! Pai, eu também choro quando eu escuto a música do Léo Canhoto e Robertinho - Meu velho pai.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Xícara de ânimo


Hoje eu careço dos seus beijos, das suas carícias, dos seus abraços, nessas noites frias de julho. Careço do silêncio compartido nos seus suspiros, da mão leve que me tocava, do sorriso que me alegrava.
Saio em cada entardecer para perceber como o dia se distancia e como morre por entre os edifícios, por entre as árvores. Por aqui há uma escura noite iluminada artificialmente, por aqui existem desejos desprezados, cartas publicadas em um blog azul. Hoje o dia foi tão monótono, o ânimo se afastou de mim e há tempos não me contagia, vivo estimulado pela cafeína e trabalho por obrigação. Converso pouco, o inevitável, curto os dias, como pimenta em potes de azeite, as minhas músicas melancólicas são toleráveis, sou escravo, um ser dependente das províncias ilhadas das marcas dos seus dedos. Entre as ruas que caminho, percebo a tristeza me fazendo guia, ainda que companheira e rotineira, eu não a suporto.
Já me faltam palavras para descrever o sentido do passado me conjugando no presente. Mudo, calado, taciturno, sigo respirando em um movimento que leva e traz a sensação de um perdedor silencioso, pleno de recordações perturbadoras, pescando pensamentos de olhos fechados.
Observo o tempo carregando as lembranças a passos lentos, pouco a pouco elas perdem cor, forma, até desaparecerem completamente.
Estou envergonhado e a cada linha eu estremeço por saber que você estará lendo cada palavra e me julgando, tomando as suas conclusões baseadas nas suas experiências empíricas. Eu sou tão contraditório que às vezes eu sou valente, ou assim penso, por que eu tenho coragem de ter a audácia de escrever a você, sou atrevido e sou tímido.
Por aqui não vejo rosas, permanecem no chão as folhas secas de árvores cansadas, sinto você debochar das minhas frases bobas, e sofro, porque sua atenção é voltada ao deboche e você não se prende aos meus encantos.
Quero uma pausa de uma vírgula, assim como os otimistas que refletem as esperanças de amores utópicos, ou de conclusões didáticas que nada me valem. Dizem que isso vai passar, eu sei! Porém agora é presente, e o vai passar, é futuro, e ele tarda muito.
Pergunto se os seus olhos são fontes de águas mornas, assim como são os meus diante das minhas mãos frias, você saberia me dizer se a ilusão é pausa da razão, ou confirmar se a minha decisão é primitiva ou imbecil, sou contraditório quando falo ou escrevo, devo ser amador nessa peça de teatro tão platônica. Penso que já é hora de me deitar, por que sinto o sono me fazendo clemência, me levando para o lugar onde os sonhos são possíveis.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Noite de sexta

Era noite de sexta quando começamos a fazer o bolo do aniversário do Miguel. Um bolo de chocolate com recheio de chantili e morangos.
Para que o clima ficasse do nosso gosto, a Vânia e eu decidimos que iríamos passar aquela noite escutando música, conversando e fazendo a peça principal de um aniversário. O Bolo.
Fui buscar o rádio e decidimos por ouvir Chopin – Pérolas do Romance.
Lavei e cortei morangos grandes, vermelhos e saborosos, conversamos sobre a família, a vida profissional e os planos do futuro, tudo na cozinha, ajudados por uma mesa grande de madeira pintada de branco, uma janela ampla que entrava uma brisa fresca, e lá fora o céu pintado com estrelas prateadas.
A batedeira era silenciosa e não interrompia a nossa conversa, quando o CD do Chopin acabou decidimos por ouvir Roberto Carlos, ouvimos Sonho lindo, Eu te amo, Moço Velho, Amor perfeito, Custe o que custar, em solos de flauta, piano, violão...
Por volta da uma da manhã sob uma assadeira quadrada o bolo assava em forno médio. Enquanto preparávamos para bater o chantili, na panela os morangos se transformavam em uma geléia encorpada, percebemos que o açúcar havia acabado, e seria insuficiente a quantidade que estava na lata. Já passava da uma e meia da madrugada, sai de pijama amarelo e a Vânia de camisola, dois indivíduos a passos lentos na rua deserta e fria, e no portão da Balú esperamos a porta da sala ser aberta. Ela abriu e trouxe para nós um quilo de açúcar refinado, agradecemos e partimos de volta com ele nos braços, rindo e nos reconhecendo loucos - Antes disso havíamos ligado pra Balú, que se mostrou generosa e gentil. Ela estava acordada, que sorte!
Enquanto ouvíamos Moço Velho, o chantili compartia espaço entre as camadas de bolo com a geléia, e nós já cansados resolvemos nos deitar. O bolo ficou coberto com um chantili branco e nas laterais chocolates preto granulado, a Vânia escreveu Miguel em cima com chocolate preto e decorou os cantos com morangos vermelhos e por fim terminamos aquilo que havíamos começado na noite de sexta.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Aos meus amigos









Hoje eu escrevo para agradecer os meus amigos pela oportunidade de sorrir em conjunto, de compartilhar fatos, por me perder em horas no Messenger, no telefone, por me surpreender nos e-mail, nas mensagens pelo celular. Ah! Meus queridos, cada um tem um lugar tão especial na minha vida, e a minha rotina seria menos dinâmica se eu não os conhecesse.
É claro que eu não poderei citar um por um, e dizer às qualidades de cada amigo meu, porém espero ser um amigo companheiro, que eu tenha dado bons conselhos, escutado na hora que vocês precisavam. Espero ter sido engraçado para alegrar o dia ruim. De verdade eu quero ter sido a alegria de vocês. Do que mora comigo, das meninas da faculdade, dos amigos de sábado à noite, das duas do inglês, dos paises vizinhos, do México, dos estados do norte, do sul, [dos amigos da internet] dos meus amigos de infância, dos que já são jovens adultos.
Sinto que sou tão privilegiado, e me sinto feliz, gosto tanto da companhia de vocês e quando estamos juntos não falta alegria, podemos conversar sério, podemos confidenciar segredos, os e-mails rápidos, os apuros dos trabalhos iminentes, das conversas cotidianas.
Obrigado! Um abraço fortão em cada um de vocês! E vamos seguindo...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O que me resta?

É noite fria de quarta-feira e por aqui é tão silencioso que posso escutar os meus batimentos cardíacos. O vento sopra com intensidade e gela tudo em que ele toca, as luzes dos prédios vizinhos se mesclam com as da rua e através da janela do sexto andar eu procuro o seu caminhar.
Hoje não há estrelas no céu, sobram pingos de chuva, faltam lugares secos. Se eu conseguisse colorir o meu dia, usaria as cores dos seus olhos, como as variantes do guache, dos seus castanhos escuros. Acredito que as pinceladas suavizaram o preto do nanquim nestas nefastas escalas de cinza que mais parece uma neblina acinzentada em meio ao esfumaçado cotidiano.
Os meus olhos beiram nuvens encharcadas que são sopradas quando caminho pelas calçadas íngremes. Sugiro que me venha buscar, por que hoje eu sinto tanta a sua falta que parece insuportável continuar vivendo sem você.
Por ora, escrevo para me livrar desse peso que é invisível e doloroso, para minimizar a saudade, para pensar em você direcionadamente. Já não posso ocultar o desejo de encontrar o seu sorriso e me imagino escrevendo com vontade de que minhas palavras, dotadas de som, toquem seus ouvidos distraídos.
A madrugada já começa e as minhas cobertas estão perdendo a batalha e a esperança parece chama, que no fim de uma vela está acabando.
Parelho um palhaço escrevendo bobagens e me enrubesço por imaginar o seu deboche diante dessas linhas dramáticas. As agulhas finas dos ponteiros do relógio de pulso giram pausadamente e eu não sei fingir que estou bem e seria insuficiente fugir, correr, ou fisicamente me ausentar, por que você está dentro de mim e eu não consigo desalojá-lo.
Eu não me importaria tanto com o inverno, o frio, se você me conjugasse, convocasse. Seria um verbo em seus lábios, uma brisa em uma piscada, uma saudade representada que aguarda um breve existir entre ruas paralelas.
O meu desejo em ver você outra vez é multiplicado por cem se eu revejo uma foto sua e contemplo o seu olhar estático e o seu sorriso entreaberto.
É engraçado dizer, mas eu sou um covarde, um tolo imediatista que a ansiedade corroe e a distância brinca de esconde-esconde me fazendo birra.
E entre pensamentos o vento regressa e faz tremer a janela do meu quarto, já não sei definir se é apenas um balanço comum, ou a provocação de uma janela feliz por ser tocada por algo que vem de tão longe, comparando comigo que estou tão perto e desconheço o toque lento das suas mãos, já não sinto o seu cheiro, ele se desgrudou e agora me resta o vento, o frio, o sono.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O trem


Por aqui o sol compete com a chuva e eles não entram em um consenso. Acredito na vitória dela, porque já andam pelas ruas pessoas com guarda-chuva, e as desprevenidas correndo. O asfalto já é bem mais negro e as praças se tornam mais verdes, o tempo menos seco. Por ventura, caminho mais calado, mais rápido, encolhido, sob os pingos frios dessa batalha incomum. O vento que invisível me ultrapassa é tão ligeiro que desarruma o meu cabelo ondulado, esfria o meu corpo quente e comparte comigo essa caminhada matutina.
Tenho tido dias normais, nada de novo tem me acontecido. Estou de férias da faculdade e a um passo do final do curso, tenho pensando frequentemente na minha mãe e na Hosaninha, às vezes eu penso que não dedico tanto tempo aos amores da minha vida, eu desconheço se elas sabem o quanto são importantes na minha vida.
A rotina nos prende com um laço invisível, a preguiça cotidiana nos preenche a ponto de não sairmos do rumo, mas eu tenho vontade de fazer coisas incomuns, como ver os meus sobrinhos em uma quarta-feira, ou ouvir músicas antigas deitado na cama.
Eu queria tocar violino, aprender piano, saber cantar afinadamente. Gostaria de saber inglês fluente, de conhecer a Irlanda, e conversar uma hora, mais ou menos, com a turma do “prézinho”, eu tenho curiosidade pra saber que rumos tomaram aquelas crianças, hoje adultos, éramos todos da mesma idade, acredito que nascemos à maioria no mesmo ano, e na minha classe tinha um outro Angelo, mas era o Marcos aniversariante em três de setembro. Lembro da minha infância como algo não tão distante, eu me lembro que quando eu andava de bicicleta eu cantava muito alto e o vento passava pela minha garganta como se fosse à vontade alheia diminuindo o som, secando a pobrezinha, deixando o menino afônico.
O som da chuva sobre o telhado é tão nostálgico, os pingos dela sobre o chão são tão sonoros e eu já não compartilho a idéia de um mundo utópico na qual eu busco definições permanentes, sei exatamente como são as coisas cotidianas, como são os problemas humanos e as minhas ânsias preparadas, porém ainda me alimento com sonhos do por vir, e descrevo essas inconstantes como boas, por que sensações, emoções, apenas vivemos por que somos imperfeitos, humanos e a cada dia que eu acordo eu sou feliz por que eu consigo perceber que a minha vida é tão compatível a mim, como sou a ela. E falando nisso, que horas passa o trem da felicidade? Hoje eu preciso embarcar.

domingo, 11 de julho de 2010

Uma nuvem de Angelo


Eu sou um jovem menino, um universitário a beira da graduação, um filho carinhoso, um irmão controlador, um amigo verdadeiro, um primo distante, um profissional que usa uma capa de estagiário. Sou o menino que caminha pela manhã e sai pra dançar com os amigos nos finais de semana, que estuda quando a prova é iminente, é educado e sorri após o bom dia, quase sempre acompanhado com um tudo bem animador. Provoco o silêncio quando estou próximo de pessoas que discutem assuntos contrários aos meus ideais, evito palavrões, mas os falo. Gosto de músicas portuguesas, italianas, francesas, irlandesas, em espanhol, em inglês.
Li todos os Potter, gosto dos pensamentos da Clarice Lispector, do Drummond, de Mario Quintana; Florbela Espanca e Sóror Mariana Alcoforado são as minhas portuguesas preferidas, já andei de roda gigante, meu doce favorito na universidade é paçoca quadrada da senhora do carrinho de pipoca, me apetece profundamente calabresa e bacon, prefiro suco a refrigerante, gosto de verde e moletom com capuz. Ouço Tiziano Ferro, Alexandra Guzmán, Benny Ibarra, Sin Bandera, com emoção. Ricardo Arjona tem letras fantásticas, Luis Fonsi e Reik tem uma voz que me agrada muito, Capital inicial e Legião Urbana são uma das minhas bandas brasileiras preferidas, ouço Adriana Calcanhoto e Bruna Caram de vez em quando, também gosto de Vivaldi, Corelli, Bach, The Corrs. Embora isso aqui seja uma síntese superficial, eu não pretendo construir uma definição sólida, afinal o tempo voa como todos dizem, eu estou amadurecendo, conhecendo novas possibilidades, me limitando em outras. Há períodos que eu gosto disso e há outros que já não me apetecem. Sou um moço feliz, acredito em Deus e sinto falta de coisas, que mesmo levantando os meus pés eu não consigo alcançar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Recebi de você


Angelo:


Te escribo esta carta, desde la soledad de mi oficina, en medio de cientos de papeles y pendientes que tengo que hacer. Estaba concentrada en mi trabajo, hasta que miré el sapito de juguete que tengo en mi escritorio y sonreí en silencio al pensar en ti. Hay días en que te extraño más que otros, hoy fue un día en el que te extrañé profundamente. No ha dejado de llover en los últimos días, me gusta caminar bajo la lluvia mientras escucho nuestras canciones y acomodo mi bufanda en el cuello, llenándome el olfato de mi propio perfume, preguntándome si alguna vez acaso, te llega el aroma de mi perfume en otra persona y entonces te acuerdas de mi y piensas en mi.
Hoy sentí la nostalgia estacionada en las manos, en las ropas, en la piel. Hoy te necesité como nunca, quizás para saberme y sentirme amada por alguien, hoy entré a tu blog después de hace algunos días y leí tu último escrito y es como si algo se me hubiera roto. No puedo negar que me cuesta un poco de trabajo admitir que tienes una vida en tu país, en tu ciudad, con tus amigos, con tu mundo real y que yo solo soy parte de ese mundo virtual e inverosímil que hemos construido. Te quiero confesar, que siento muchos celos al leer las cosas tan hermosas y maravillosas que escribes, y no por el hecho de sentir celos de pareja, más bien son celos de saber que alguien despierta en ti tantos sentimientos, celos de saber que algo tan cotidiano se vuelve tan importante para ti. Y me pregunto qué se sentirá besarte, como se sentirán tus dedos en mi piel, cómo sería el calor entre tu y yo, cómo sería aquel encuentro físico que tantas veces he imaginado y deseado.
Si te confieso todo esto, es por que entre tu y yo no hay secretos, y solo quería que supieras que nada me gustaría más en el mundo que poder transmitirte por medio de besos, miradas y caricias todo el amor que siento por ti.
Que tengas una maravillosa noche, te amo siempre.


Mariann.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ao entardecer de terça-feira


Escrevo para registrar o pequeno espaço de tempo que passamos juntos, naquela tarde de terça-feira ao entardecer. Vi pela janela do seu quarto o sol morno desaparecendo no horizonte enquanto alguns pássaros em conjunto se recolhiam aos seus ninhos. Foi uma conversa tensa e prazerosa, que fez com que dentro de mim se misturasse o desejo, a alegria e a timidez, de maneira que ficou impossível distingui-las.
Quando a tarde foi roubada e exclusivamente entrava pela janela a iluminação pública, a luz do quarto se apagou e só ali eu enxergava o seu vulto, sentia o seu cheiro e o leve toque dos seus beijos.
Toquei lentamente os seus cabelos cacheados, o seu pescoço claro e na sua boca eu me privei do mundo, por minutos. Enquanto sorríamos entre os beijos e a conversa continuava, eu percebia que o calor entre nossos corpos me atraia profundamente, o volume da sua voz e as pausadas cômicas foram tão sutis que temperaram aquele momento o tornando inesquecível.
Posso dizer que o rubor me transforma porque é desconhecida a minha coragem quando você me olha nos olhos, quando você se aproxima entre centímetros e vagarosamente surge aquele sorrisinho malicioso, entre lábios tão condescendentes.
Percorrendo o seu corpo desnudo sem um rumo fixo, senti o prazer da sua pele na penumbra da noite, sobre a brisa de terça-feira, e ainda que eu não admita, me perdi, pois agora não me reconheço e anseio pelos seus abraços.
E sentindo como se flutuasse eu notei que há pouco tempo estava pronto pra sonhar, embora já fosse hora de acordar.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Vergonha


Sonhei com você essa noite e foi tão incrivelmente real, pois senti os seus dedos delgados sobre as minhas costas descobertas.
Eu não descreveria com exatidão e falharia em tentar representar em palavras tudo que senti enquanto os meus olhos cerrados davam lugar às sensações.
Agora eu procuro uma foto sua para relembrar incansavelmente o poder de encontrar os seus lábios e oferecer o meu corpo para a sua felicidade.
Lamento a distância que me limita, me lastima e me priva do toque suave dos seus cabelos negros, curtos e rebeldes, do perfume suave das suas mãos e da doçura dos seus beijos.
Quero seu sorriso perto de mim, seu corpo em troca de calor contra o meu, quero a felicidade instantânea que ao encontrar você me enche de alegria.
Seus olhos são para mim como duas jabuticabas pretas, grandes e redondas, são como pérolas que iluminam o seu rosto oval e refletem sobre mim a candura e a naturalidade.
Desejo sentir você fazendo coisas bobas, rindo das minhas palhaçadas, me batendo com a almofada. Sofro por ser um covarde, que calo através dos seus abraços, que espreito entre suas conversas a delicadeza da suas gentilezas.
Tenho medo de dizer aquilo que sinto, por medo de não expressar aquilo que nem eu mesmo sei definir.
Se você soubesse, não por mim, quem sabe me lesse um oculto dos meus escritos, confessaria aos seus ouvidos a prazerosa sensação que a lembrança me provoca se é você que permeia os meus momentos desatentos.
Como um menino inocente, que veste branco e nem sabe por que é ano novo, eu valeria a pena se a vergonha não me preenchesse, talvez esses sentimentos de rejeição assinada ou a recusa direcionada me bloqueiam e nunca saberei se você se importa com o meu martírio, se sou suficiente para você, se você é capaz de me amar. O que sei, é que posso apenas conhecer os meus sentimentos, e por ora, eles brigam por você.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

¿Escríbeme?


Hola Kitty!

Hace tiempo que no hablamos, ni sé como estas, tampoco que ha hecho. Escribo para contarte como estoy, ojalá que puedas contestarme pronto.
Por aquí ya es invierno y el frío me deprime un poco, ya estoy de vacaciones y el próximo semestre es el último de la universidad. Los juegos del Brasil han sido muy buenos, comparto ellos con amigos nuevos y un poco de cerveza y alegría. Las clases de inglés hay sido buenas, y ya estoy me acostumbrando.
Hace dos días que terminé de leer un libro maravilloso de un español llamado Frances Miralles, se llama Amor en minúscula. Aún sigo con mi vida en Campinas y en los finales de semana me voy a casa. Nada de distinto cambio en mi vida, he leído, escribido poco y escuchado canciones hermosas. Salí a bailar en lo sábado y eso me puniste muy contento, hacia tiempo que no lograba hacerlo. Compré una playera amarilla que siempre pongo en los días de juegos y eso me hace sonreír. Ahora escucho una canción que se llama “recuérdate de mí” quien la canta es Magalda Veiga y João Pedro Pais, son dos cantantes portugueses, y en portugués se llama lembra-te de mim, fue una amiga que me pasó.
Las calles por aquí son frías y el aire me golpea todas las mañanas, cambie el mp3 por libros, y eso me da mucho gusto, aunque yo camine un poco lento y siempre paro en los señales de transito.
Ya tengo tres cartas de recomendación para tentar la vaga de mestrado y me voy a estudiar con una chica de mi trabajo, ella va hacer la misma prueba que yo y pregunté se por acaso no quisiera estudiar conmigo, ella dijo que sí, creo que empezaremos por lunes.
Mi madre sigue bien, así como mi hermana que estas enamorada y feliz. Aun no llego su vacación, pero no tarda en llegar.
Te extraño, pero no sé nada de ti, casi nada, todavía tengo nuestras canciones y la esperanza de recibir noticias suyas.
Ahora es una tarde de jueves linda, hay un cielo azul y un sol tímido que no calienta nadie, creo que el ya se va a casa, por que la noche se aproxima.
El corazón queda latiendo y no hay nada sobre lo que decir de el, a veces siente nostalgia y ni las latas de leche condensada lo ayudan. La ausencia es eminente pero yo respiro sintiendo tu calor acariciándome. Hay días que salgo a caminar para llegar a tu encuentro, pero en segundos estoy de vuelta antes de regresar. Si estuvieras aquí, me gustaría marchar contigo por las calles y mostrarte a cada rincón donde vivo, los árboles son hermosos y grandes, verdes y contentes. Hay también niños en las calles y mucho transito pero hay días que nada siento, quizás yo solamente estoy físicamente, y todo pasa por mi despacio, ni miro en el espejo, yo viajo.
El regreso a nuestro pasado me hace vivir en un mundo conocido y sin descripción exacta, pero si tu mirar al cielo recuérdalas de mi. Son señales tan dulces y sencillos, invisibles como el viento.
Ahora me voy a bañarme, esta frío y quiero acostarme un poco, leerte en las líneas de mi imaginación, escucharte en nuestras canciones. Prefiero las cosas explicitas, aunque las disimuladas sean mas atrayentes.
Cuídate, te extraño como siempre. Podrías diminuir mi ansia de conocer tu cotidiano, ¿escríbeme?
Besos, hasta pronto.


Ps:. Ya tengo un año de Blog, que rico eso, ¿No? Merci.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mentiras piadosas

Foram três toques no seu celular que eu movido por uma iniciativa, que agora eu já perdi, pensei em estreitar nosso caminho através desse telefonema insólito. Por aqui há um sol fraco que penetra pela janela e ilumina esquecendo-se de aquecer, eu sinto esse brisa invisível que me toca pedindo que eu me agasalhe. Talvez você esteja feliz por saber que eu estou tolerando esse sentimento tão inevitável que rouba o meu sorriso e me faz caminhar sem cantar e a cada dia eu imagino como seria se ainda você existisse aqui.
Eu seria mais forte perante esses problemas cotidianos? Seria um silêncio dividido ou teria pensamentos incompreendidos? São indagações soltas e ingênuas, fracas e sem objetivo vindo da mente de um garoto que percebe os erros dos pensamentos contínuos. Por enquanto eu reflito na melhor maneira de amenizar essa situação deprimente e afastar os fantasmas do anteontem.
Quero que fique explícito a maneira dos meus comentários espontâneos, não fora de jeito algúm para salientar seu lado sombrio, aliás, eu temia as suas sentenças. É provável que nunca me conhecesse de verdade, na essência, nem soube manifestar a cautela diante deles.
Aprendi a ser mais prudente e me censurar quando devia escutar pausadamente e ocultar as minhas manifestações, sendo elas desagradáveis e diretas.
Agora é fim de tarde de uma terça-feira fria, de um outono disfarçado de inverno, um futuro por ora previsível e temeroso que gera em meu corpo a busca de algo que eu desconheço, porém eu o procuro para evitar essa sensação estática que me move.
Já está na hora de me despir desse ingênuo garoto e me formular em uma carapaça de homem, de simplificar as coisas, de viver de fatos e realidade, fugindo da ilusão e da fantasia.
Contudo, eu espero ter encontrado uma saída para aqueles desejos contidos, que me levaram a suspeitar daquilo que eu não posso controlar.
Penso que aqui eu pressione a caligrafia forçando um ponto final nessa frase sem sentido e demonstre um comportamento mais racional, menos alucinado.
Vou tomar um banho demorado, me agasalhar e caminhar por essas ruas de pessoas agitadas sem trombar com aquilo que não importa mais, mesmo que eu não encontre as palavras, escutando “Mentiras Piadosas” de Alejandra Guzmán.

sábado, 5 de junho de 2010

Uma rotina redesenhada

Por aqui esfriou bastante, já não se encontra garotos com bermudas nem moças com vestidos e sinto esse frio que mais parece inverno que outono.
Estamos em junho e continuo acordando pelas manhãs, tomando banho quente e leite com chocolate. Troquei as músicas do mp3 por leituras rápidas de quinze a vinte minutos, ainda que os meus dedos estejam, nessas manhãs frias, desprotegidos dos bolsos, estou gostando da substituição.
Não tenho animo para escrever o trabalho de conclusão de curso, embora eu goste do tema, não encontro motivação. A faculdade, especialmente, esse semestre tem sido a mais tranqüila dos últimos anos. Tenho assistido há poucas aulas e já fechei em duas disciplinas.
Parece que o espírito da copa tem contagiado o meu comportamento. Já tenho planos de assistir os jogos e gostaria muito de comprar a camiseta amarela oficial do Brasil com o meu nome escrito atrás. Escuto exaustivamente a versão brasileira da música da copa com o Skank, porém me enche de alegria quando canto junto à versão em espanhol com David Bisbal. Revi meus sobrinhos nesse feriado, e eu já havia me esquecido como eles são divertidos, inteligentes e sapecas. Não é raro eu me deparar com perguntas inconvenientes, permitindo-me pensar se você estivesse por aqui seria diferente, se pudesse compartilhar comigo o meu tempo livre, faríamos pipoca, suco, e trocaríamos calor? É um exercício de imaginação. Ainda durmo com o filho, aquele sapo verde confortável, pareço bobo, senão uma criança com responsabilidades.
Estou em uma fase sem perspectivas. Em dezembro termino o estágio e já serei um graduado, terei a festa de formatura com as pessoas com que convivi por quatro anos e isso me parece tão divertido e assustador. Ainda que isso me provoque ansiedade, eu não tenho um plano b e não compartilho da idéia de ser um acomodado, apenas sou um preparado em curto prazo.
As aulas de inglês são ótimas, entretanto não me apetece esse idioma. Tenho dificuldade com o th e as frases não querem me acompanhar.
Faz tempo que não como pão de queijo e leite condensado. Ainda sou fã de trident verde, de pijama e orgulho e preconceito.
Fiz amizades fantásticas, conheci pessoas que compartilham de coisas em comum e algumas delas se simpatizam com o que eu escrevo.
Longe de casa, percebo como a minha vida mudou, mas continuo em uma nova rotina, redesenhada. O final de semana está começando e eu estou por aqui, vendo o passar, no meu quarto, no meu canto.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Como pétalas de magnólias


Ainda é outono por aqui e as manhãs são típicas, venta muito pelas ruas e pelo meu caminho eu percorro protegido com uma jaqueta azul que me aquece até eu chegar ao trabalho. As árvores, sempre em movimento, parecem dançar, passo por semáforos entre ruas largas e crianças em direção à escola, com suas mochilas, tudo em tamanho mínimo, é tão engraçado. Como de costume, eu escuto músicas, canto e sou feliz.
Envio músicas a você com o objetivo de fazê-las mensagens ocultas da minha ausência física. Uma maneira que encontrei para que consiga entender de como estou me saindo longe de você. As minhas letras expressam a minha impotência regrada, a minha vontade instalada nessas cartas rotineiras.
Por que sinto uma saudade exagerada, compartindo tristezas vigiadas nesses dias em que dividimos nosso período inocente.
Se os meus braços alcançassem os seus, de mãos dadas perceberia como são verdes as árvores daqui e como é frio se você não está prevenida.
Nenhum gesto escapa da sensibilidade dos meus olhos, passa por mim devagar. Quero que conheça o meu apoio nessa hora tão frágil em que você se sente, como um cristal, como flocos de neve, como pétalas de magnólias, como os meus olhos castanhos, solitário.
São vitórias que agora eu desejo a você, quero que descanse, queria te dar tranqüilidade, tocar a sua mão e levar você a esquina tomar um chocolate antes de ir para casa, para que se lembre de mim, agora escrevo.
Eu sei que o seu silêncio conta tantas histórias e que a pressa não acompanha o tempo, se você conseguisse sentir os meus beijos lentos no escuro do seu quarto, ou na sombra das suas pálpebras fechadas, talvez nos seus raros sonhos noturnos, ele pararia e eu promoveria a sua calmaria.
Ainda que você não escreva em português e o meu espanhol pareça tão precário eu sinto que as minhas palavras são nítidas, expressas, e que você acompanha os entendimentos da minha fragilidade. Gostaria de estar junto de você, quando as noites são largas e você a mede com esperança de que ela seja menor. Gostaria de abraçar você e dizer que vai dar tudo certo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quarto crescente

Maio chega ao fim com a sensação de que o tempo passou e eu não construí nada de útil, nada sólido. A festa do final de semana foi muito divertida, era aniversário da Bruna e com ela um monte de amigos e música alta, foi muito bom para romper com aquela abstinência existente. Fui pra casa no domingo de manhã, havia três semanas que não deitava na minha cama, escutava os meus cd’s, brincava com o cat’sbeer, abraçava a minha irmã e a minha mãe. Por lá caminhei naquelas ruas do interior, que é tão visível a calmaria de ruas sem movimento que até ouço os meus pensamentos.
Ontem era lua de quarto crescente, pronta para formar-se em cheia em vinte e sete de maio, uma notícia que pode apetecer qualquer noite de domingo.
Voltei no ônibus lendo e quando o sono me surpreendeu eu desliguei a luz e cochilei. Cheguei em casa por volta das nove da noite, tomei banho, daqueles que a vontade de ficar abaixo do chuveiro é irresistível, com uma neblina perfumada de cheiro de sabonete, shampoo e água quente. Vesti o meu pijama amarelo de listras brancas e já tracei aquele roteiro típico de noites de domingo. Ler, escrever e escutar músicas. Mas quando você me ligou eu resolvi passar o fim da noite em outro lugar.
Estou escutando Carla Bruni, e estou gostando tanto, descobri que você não conhecia Vivaldi e tampouco a famosa “As Quatro Estações” aquele trecho de música que tocou no filme ontem, era Primavera.
Quando as minhas mãos faziam círculos nas costas das suas, o seu calor era eminente e tudo parecia mais intenso quando eu fechava os meus olhos. Foi engraçado aquele lanchinho grudar na lancheira elétrica, entretanto estava saboroso. Achei interessante sua pergunta da festa de sábado e o seu sorrisinho singular.
Eu não entendi porque você pausou o filme e quando me virei para buscar o motivo, você me tocou com um abrupto beijo de uma velocidade desmedida. A retribuição foi instantânea, inconscientemente ansiava por aquilo e foi maravilhoso. Deslizei as minhas mãos sobre suas costas e removi o que bloqueava os meus lábios do seu corpo, abri os meus braços para que nele instalasse os seus caminhos. O vento que entrava pela porta da sacada equilibrava a nossa temperatura, senti as pressões do desejo e me comportei a favor da felicidade, porque sem aviso ela quis entrar. Sem rumo fixo eu preenchi você de carinhos, com o meu olhar eu espreitei a sua censura. E pela manhã eu acordei sentindo a sua ausência em meus braços, e já era segunda, deixei o edredom descansando no colchão da sala e parti para que tudo se tornasse lembranças. Por ora as resguardo caminhando pelas mesmas ruas dos dias úteis, na rotina, enfrentando a semana com a resistência de esquecer você.

domingo, 9 de maio de 2010

Dia cinza


Você conservava a calma e parecia dormir sorrindo. O seu par de sobrancelhas curtas, irregulares, tão próximas e tão frágeis, prendia a atenção dos meus dedos que a alisavam, e dali, o seu rosto, mantinha traços de uma personificação de beleza imaculada, de sono sereno, de predicados levianos.
Descuido dos meus passos nessa manhã de domingo de maio, os chuviscos finos incomodam. Hoje por aqui amanheceu um dia frio e um cenário comum em escala de cinza. Os ônibus aos domingos de manhã são tão vazios, as pessoas caladas encolhidas em seus agasalhos de lã. Quando as minhas mãos estão frias e os meus pés anseiam um cobertor quente eu imagino mascando folhas de hortelã, acolhido em abraços carinhosos de respiração constante e lenta, de movimentos circulares nos meus cabelos desarrumados.
Quando eu sonhei, me virei na cama, ainda quente abaixo do edredom macio, vi em cima do criado mudo uma gérbera salmão de miolo marrom, esperando o meu sorriso. Fui surpreendido por seqüências de beijos cerrados, de toque leve e sorrido preparado. É curiosa como a proeza do silêncio em cada momento de intimidade é tão eficaz, sou um segredo que me desnudo ao instante que as suas retinas me interrogam e todo se termina. Suspiro no caos que em silencio eu vivo.
De lápis eu sublinho os rabiscos que são as nossas conversas censuradas, as que eu queria ter com você. Promovo o silêncio e oculto os meus infortúnios, os meus desejos. Talvez eu não caiba em mim e não alcanço as suas expectativas. Mas hoje, eu apenas queria o seu ombro branco, o seu braço envolto nos meus abraços, os seus batimentos cardíacos estimulando os meus, a sua circulação sanguínea competindo com a minha.
E antes que amanheça, antes que o final de semana acabe, quero compartilhar a chuva com você debaixo da sua sombrinha vermelha, caminhar na chuva, desistir dos ônibus, brincar de ser feliz em uma casa da cor do açafrão, de piso ardósia com cheiro de limpeza.
São dias assim, que o labirinto é sem saída e o dia não quer terminar, apenas por que eu não posso tocar você.

sábado, 24 de abril de 2010

Cortinas fechadas

Era uma daquelas noites quentes e atípicas de outono; de ar parado, de céu estrelado e ruas desertas. Concertei as minhas frases e resolvi submeter apenas um discurso programado. Fui refém da delicadeza e da perspicácia dos beijos encontrados, das carícias desbravadoras e da sensação de frio que sinalizava um prazer instantâneo. Eu senti sobre as minhas costas uma leve brisa tépida e sobre a minha boca uma outra igualmente sapeca e saborosa, intensa e cheia de vontades. Decidi de pronto fechar os olhos para que o meu corpo resistisse o irresistível. Cedi por vontade própria, sorrindo e desejando você a cada movimentação das minhas mãos.
As horas voavam e eu não as enxergava, não as reconhecia, talvez seja por que o brilho das suas pupilas estavam refletidos nas minhas e a atenção era voltada para uma espécie de braços largos, de sorriso maroto, de carinhos cobiçados. E naquele momento eu não pediria nada mais, além do abraço e dos pares de beijos. Segundos antes de beijar você, eu alimentei os nossos beijos com sorrisos, e eles me fizeram tão bem.
E é tão irresistível, como água fresca no deserto. Das suas características, eu posso dizer daquelas peculiares brincadeiras infantis e aquela maneira de mudar a voz quando fala gesticulando imitando alguém, tudo muito admirável. Também posso dizer que a sua torta de banana é saborosa. Nada, além disso, me sinto responsável.
Quando o sol toca a sua janela entreaberta e o despertador faz o seu trabalho, eu aspiro deter o poder de fazer noite, para viver tudo outra vez, mas já é outro dia útil. Faz sol e há pessoas nas ruas, apressadas e cansadas.
Os dias por aqui viajam no tempo, o registro está com as pilhas fracas, como cortinas fechadas, isoladas. Às vezes ando ansioso demais, às vezes eu conto os passos que dou nas calçadas de paralelepípedo. Hoje aqui é monótono e lento. É inútil dizer, é óbvio, que é inverso quando estamos juntos. Dos seus cabelos castanhos, os meus dedos são tão íntimos, suspenso no ar, garanto que tremo quando as suas carícias são exatas e permanentes, você conhece meus pontos fracos e não disfarça em agir ali como um explorador, sou um escravo que não sabe viver sem eles.
Os minutos são livres e não vejo a hora de ver novamente, de praticar coisas distintas, ainda que me tenha dado apenas uma noite. Não reconheço a sua ansiedade e não sou dono dos seus pensamentos, a imprevisibilidade toma conta dos meus interesses, mas eu nem ligo. Eu disfarço e sorrio.
E por isso que meus dias são imprevisíveis e meu humor varia em uma escala não natural que eu me surpreendo com os meus atos, antes tão pensado, hoje algo nem tão pronunciado.