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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Como pétalas de magnólias


Ainda é outono por aqui e as manhãs são típicas, venta muito pelas ruas e pelo meu caminho eu percorro protegido com uma jaqueta azul que me aquece até eu chegar ao trabalho. As árvores, sempre em movimento, parecem dançar, passo por semáforos entre ruas largas e crianças em direção à escola, com suas mochilas, tudo em tamanho mínimo, é tão engraçado. Como de costume, eu escuto músicas, canto e sou feliz.
Envio músicas a você com o objetivo de fazê-las mensagens ocultas da minha ausência física. Uma maneira que encontrei para que consiga entender de como estou me saindo longe de você. As minhas letras expressam a minha impotência regrada, a minha vontade instalada nessas cartas rotineiras.
Por que sinto uma saudade exagerada, compartindo tristezas vigiadas nesses dias em que dividimos nosso período inocente.
Se os meus braços alcançassem os seus, de mãos dadas perceberia como são verdes as árvores daqui e como é frio se você não está prevenida.
Nenhum gesto escapa da sensibilidade dos meus olhos, passa por mim devagar. Quero que conheça o meu apoio nessa hora tão frágil em que você se sente, como um cristal, como flocos de neve, como pétalas de magnólias, como os meus olhos castanhos, solitário.
São vitórias que agora eu desejo a você, quero que descanse, queria te dar tranqüilidade, tocar a sua mão e levar você a esquina tomar um chocolate antes de ir para casa, para que se lembre de mim, agora escrevo.
Eu sei que o seu silêncio conta tantas histórias e que a pressa não acompanha o tempo, se você conseguisse sentir os meus beijos lentos no escuro do seu quarto, ou na sombra das suas pálpebras fechadas, talvez nos seus raros sonhos noturnos, ele pararia e eu promoveria a sua calmaria.
Ainda que você não escreva em português e o meu espanhol pareça tão precário eu sinto que as minhas palavras são nítidas, expressas, e que você acompanha os entendimentos da minha fragilidade. Gostaria de estar junto de você, quando as noites são largas e você a mede com esperança de que ela seja menor. Gostaria de abraçar você e dizer que vai dar tudo certo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quarto crescente

Maio chega ao fim com a sensação de que o tempo passou e eu não construí nada de útil, nada sólido. A festa do final de semana foi muito divertida, era aniversário da Bruna e com ela um monte de amigos e música alta, foi muito bom para romper com aquela abstinência existente. Fui pra casa no domingo de manhã, havia três semanas que não deitava na minha cama, escutava os meus cd’s, brincava com o cat’sbeer, abraçava a minha irmã e a minha mãe. Por lá caminhei naquelas ruas do interior, que é tão visível a calmaria de ruas sem movimento que até ouço os meus pensamentos.
Ontem era lua de quarto crescente, pronta para formar-se em cheia em vinte e sete de maio, uma notícia que pode apetecer qualquer noite de domingo.
Voltei no ônibus lendo e quando o sono me surpreendeu eu desliguei a luz e cochilei. Cheguei em casa por volta das nove da noite, tomei banho, daqueles que a vontade de ficar abaixo do chuveiro é irresistível, com uma neblina perfumada de cheiro de sabonete, shampoo e água quente. Vesti o meu pijama amarelo de listras brancas e já tracei aquele roteiro típico de noites de domingo. Ler, escrever e escutar músicas. Mas quando você me ligou eu resolvi passar o fim da noite em outro lugar.
Estou escutando Carla Bruni, e estou gostando tanto, descobri que você não conhecia Vivaldi e tampouco a famosa “As Quatro Estações” aquele trecho de música que tocou no filme ontem, era Primavera.
Quando as minhas mãos faziam círculos nas costas das suas, o seu calor era eminente e tudo parecia mais intenso quando eu fechava os meus olhos. Foi engraçado aquele lanchinho grudar na lancheira elétrica, entretanto estava saboroso. Achei interessante sua pergunta da festa de sábado e o seu sorrisinho singular.
Eu não entendi porque você pausou o filme e quando me virei para buscar o motivo, você me tocou com um abrupto beijo de uma velocidade desmedida. A retribuição foi instantânea, inconscientemente ansiava por aquilo e foi maravilhoso. Deslizei as minhas mãos sobre suas costas e removi o que bloqueava os meus lábios do seu corpo, abri os meus braços para que nele instalasse os seus caminhos. O vento que entrava pela porta da sacada equilibrava a nossa temperatura, senti as pressões do desejo e me comportei a favor da felicidade, porque sem aviso ela quis entrar. Sem rumo fixo eu preenchi você de carinhos, com o meu olhar eu espreitei a sua censura. E pela manhã eu acordei sentindo a sua ausência em meus braços, e já era segunda, deixei o edredom descansando no colchão da sala e parti para que tudo se tornasse lembranças. Por ora as resguardo caminhando pelas mesmas ruas dos dias úteis, na rotina, enfrentando a semana com a resistência de esquecer você.

domingo, 9 de maio de 2010

Dia cinza


Você conservava a calma e parecia dormir sorrindo. O seu par de sobrancelhas curtas, irregulares, tão próximas e tão frágeis, prendia a atenção dos meus dedos que a alisavam, e dali, o seu rosto, mantinha traços de uma personificação de beleza imaculada, de sono sereno, de predicados levianos.
Descuido dos meus passos nessa manhã de domingo de maio, os chuviscos finos incomodam. Hoje por aqui amanheceu um dia frio e um cenário comum em escala de cinza. Os ônibus aos domingos de manhã são tão vazios, as pessoas caladas encolhidas em seus agasalhos de lã. Quando as minhas mãos estão frias e os meus pés anseiam um cobertor quente eu imagino mascando folhas de hortelã, acolhido em abraços carinhosos de respiração constante e lenta, de movimentos circulares nos meus cabelos desarrumados.
Quando eu sonhei, me virei na cama, ainda quente abaixo do edredom macio, vi em cima do criado mudo uma gérbera salmão de miolo marrom, esperando o meu sorriso. Fui surpreendido por seqüências de beijos cerrados, de toque leve e sorrido preparado. É curiosa como a proeza do silêncio em cada momento de intimidade é tão eficaz, sou um segredo que me desnudo ao instante que as suas retinas me interrogam e todo se termina. Suspiro no caos que em silencio eu vivo.
De lápis eu sublinho os rabiscos que são as nossas conversas censuradas, as que eu queria ter com você. Promovo o silêncio e oculto os meus infortúnios, os meus desejos. Talvez eu não caiba em mim e não alcanço as suas expectativas. Mas hoje, eu apenas queria o seu ombro branco, o seu braço envolto nos meus abraços, os seus batimentos cardíacos estimulando os meus, a sua circulação sanguínea competindo com a minha.
E antes que amanheça, antes que o final de semana acabe, quero compartilhar a chuva com você debaixo da sua sombrinha vermelha, caminhar na chuva, desistir dos ônibus, brincar de ser feliz em uma casa da cor do açafrão, de piso ardósia com cheiro de limpeza.
São dias assim, que o labirinto é sem saída e o dia não quer terminar, apenas por que eu não posso tocar você.