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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Entroncamento


Já passava das seis e eu acordei com um par de olhos azuis me observando, senti percorrendo pelo meu rosto toques de dedos macios e fui flagrado por um sorriso maroto que retribui com um bom dia de sorriso acanhado e em minutos comparti uns pares de mini beijos sortidos.
Era uma manhã de céu azul, sol tímido e envolto por um vento sapeca que esfriava o meu corpo, bagunçava o meu cabelo e provocava a imensa vontade de ficar abraçado a você. Sinto como se estivesse vivendo há dias o caminho da distração, o tempo ao seu lado é acelerado, como se os ponteiros do relógio disputassem entre si quais girariam 360º mais rápido. E não é possível esquecer como foi aconchegante, amoroso e perfeito a nossa primeira noite juntos. Meus lábios encontraram os seus em um movimento delicado, senti o meu corpo arrepiar, a minha pele formar picos e me imaginei como um gato bravo em posição de ataque. Sou um desbravador que me aventuro por cada canto longínquo do seu corpo e é tudo tão lindo porque você tem alegria e sabor, reconheço no seu olhar o brilho palpável da felicidade e me sinto um anjo por trazer de longe algo tão celestial. Desenho o menino de palito em uma folha branca e convido você para colorir esse mundo que é tão instável e imprevisível, penso no seu cotidiano entre minutos, das nossas rotinas, nossos deveres e concluo que o seu amor pra mim é importante, seu sorriso é o meu presente. Penso em você me beijando a todo instante e isso pode parecer tão redundante, eu enrubesço. Quero voar com você de novo de olhos fechados, beijar ao estilo homem aranha, me perder nas suas costas brancas e sorrir após um beijo lento. Aqui escrevo palavras ditadas por um moço novo, feliz e inocente, cheio de alegria, medroso por natureza. Caço o cheiro suave do seu perfume em partes das minhas roupas e isso alivia a ausência constante que me ataca nesses dias frios de vento gélido. As noites longe de você são monótonas e lentas que nem me apetece adormecer e para brincar comigo o vento sopra a saudade para me fazer companhia. Quando o escuro domina, eu rabisco palavras para tentar explicar como você se tornou importante pra mim em tão pouco tempo, a maneira de como você fala me atrai profundamente, a delicadeza com que você me toca é inexplicável e é impressionante saber que o meu coração é massageado pelo som das suas cordas vocais, se isso não é sentimento, eu não sei dizer como é estar apaixonado. Gostaria que você soubesse que meus dias são permeados de detalhes seus, tenho flashback dos momentos vividos e anseio pelos futuros que virão. A cada momento que planejo algo novo com você sinto me encher de alegria e a ansiedade já é algo comum que tomo em doses homeopáticas.
Ultimamente tem feito manhãs lindas, o céu é azul e há poucas nuvens brancas, o vento vaga solitário por ruas estreitas do meu bairro e eu caminho me sentindo feliz ao acordar sabendo que nós andávamos por ruas paralelas e que hoje ouve um entroncamento imprevisível e imediato.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

À beira do paraiso


Àquela hora da tarde eu quieto espera, o que eu não esperava era reconhecer o amor. Sob sorrisos tímidos e conversas rotineiras, de conteúdo incomum, confortei-me com o seu olhar e fui intimidado pela sua iniciativa. Vacilei várias vezes e perto de você não consegui me explicar, talvez isso seja fruto da sensação de tempestade que vivemos quando algo de muito bom nos acontece, nos deixa paralisado, nos deixa bambo.
Amanheceu e o que passou não foi sonho. Caminhamos por uma rua comprida e passamos por uma passagem secreta, descemos o morro devagar sentindo o vento gelado das tardes de inverno. Parecendo um bobo, eu imaginei as árvores altas dando graças, porque chacoalhavam de felicidade por ver que o menino estava beirando o paraíso.
Recordo da tarde de ontem com alegria, da respiração entre centímetros que compartimos e da sensação de leveza que fiquei ao seu lado. Confesso que a apreensão em instantes tomou conta de mim e a partir dai à ansiedade decidiu comportar-se. A minha alma foi alimentada pelos seletos sentimentos e a paixão me toma por completo e o desejo de ver você é constante, como a respiração que é vital, como as piscadelas que são involuntárias.
Seus olhos, oceanos pacíficos, me cativaram, seu sorriso me devolveu o brilho esperançoso de horas prazerosas. Pesquisei sobre você e percebi que tivemos os mesmos professores, li a maioria dos seus livros, assistimos as mesmas séries, mas onde você estava enquanto passávamos por processos semelhantes? Agora as palavras já são detalhes inviáveis, que só podem ser substituídas quando eu beijo você devagar, onde eu estava? Eu pensei que estava preparado, tinha tudo esquematizado, e você bagunçou tudo. E eu adorei. Talvez se procurasse bem, você estaria nos livros que lemos, nas séries que vimos, nas noites que dormimos separados.
Quero que desperte com os meus versos emprestados, todos envoltos pelo sentimento que você me deu de presente, por isso eu compartilho com você. São eles que me inspiram hoje, nessa manhã fria de quarta-feira e timidamente peço: busque os seus beijos nos meus lábios hoje, eu preciso do seu silêncio me tocando. Não me importa que tudo seja precoce, por que: ¹ "Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões". E aconteceu comigo: ² "Os outros eu conheci por ocioso acaso. A ti vim encontrar porque era preciso". E não seria diferente: ³ “Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem". No silêncio da noite, entre cobertas e sobre uma cama confortável eu beijaria você ouvindo:
“Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar... Ai, que bom que isso é meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar, mas se a luz dos olhos teus, resiste aos olhos meus só pra me provocar.
Meu amor juro por Deus, me sinto incendiar”. E por fim, eu finalizo com o Caio F. Abreu, que representa perfeitamente como me sinto. “Como se tivesse retomado a um anterior estado de pureza depois de muitas marcas”.
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¹ Graciliano Ramos.
² Guimarães Rosa
³ Caio F. Abreu
Pela Luz dos Olhos Teus - Tom Jobim e Miucha.

sábado, 7 de agosto de 2010

Meu velho pai

A benção pai?
- Deus abençoe.

Por aqui é madrugada de sábado e amanhã é o segundo domingo do mês de agosto, é o dia dos pais.
Agora faz frio e o senhor já não nos cobre quando deitamos e nem nos acorda dizendo que nunca viu ninguém indo deitado. Nunca mais acordei com o cheiro de café flutuando da cozinha até o quarto, nunca mais escutei os seus risos contidos e nem vou jogar truco com o senhor pra ganhar dos que atreviam a nos desafiar.
Eu me lembro sempre quando íamos dormir. Eu e a Pi pedíamos a benção para o senhor e para a mãe, o senhor cobria a Pi primeiro, depois eu. Achava tão importante aquilo, era tão emocionante. Nunca chamávamos de você as pessoas mais velhas que a gente, o obrigado tinha um lugar primordial nas nossas conversas, e a benção era um pedido obrigatório para quando acordávamos, íamos dormir, ou saíamos de casa. E por incrível que pareça não me lembro de ser isso imposto.
Pai, eu não esqueço quando brincávamos de esconde-esconde, das minhas crises de adolescente, de querer ver mais televisão, de quando o senhor pedia para que tirássemos as suas meias pretas sociais, fedia chulé! Mas não nos importávamos. E quando o senhor nos trazia paçoca de rolha, comprava canetinhas coloridas e revistinhas para pintar, o senhor repartia o sanduíche feito de pão francês ao meio de uma maneira diferente, apenas sua. Na diagonal. Nossas viagens de trem nas férias eram incríveis, eu corria entre os vagões, era sempre repreendido por me imaginar voando com a cabeça pra fora da janela.
Agora depois de tanto tempo, parece que tudo não aconteceu, não é algo palpável, são lembranças. O senhor já não está aqui e às vezes eu sinto saudades. Como eu não posso comprar um presente, eu resolvi escrever, talvez o senhor leia, ou talvez esteja lendo agora. Ah pai, meninos não choram né? Cuide da sua mãe, eu me lembro disso! Eu não moro mais com a mãe nem com a Pi, nos vemos apenas nos finais de semana. Eu estou morando em Campinas e lá é tão diferente daqui, é mais agitado e não há vizinhos simpáticos, eles não cumprimentam, só se eu sorrir, no máximo um bom dia. Nunca ninguém pediu emprestado pó de café nem açúcar para mim. Estou terminando a faculdade, serei o seu primeiro filho a se formar, há dias que é cansativo e eu gostaria de sentar e conversar um pouco com o senhor. Seria inexplicável se lá de cima do tablado eu visse o senhor e a mãe acenando pra mim, já imaginou? Eu com a beca e o canudo na mão? Pai, eu espero que o senhor esteja bem por ai, e que onde estiver às pessoas sejam legais, eu me arrependo de coisas. Arrependo-me de ter brigado por tontices, deveria ter ficado calado, o silêncio sempre é o melhor caminho a seguir, mas eu não sabia. Eu amadureci, como o senhor era sábio e eu um galinho galizé medíocre. Eu nunca falei isso pessoalmente, acredito que eu ficava tímido, e talvez chegasse a pensar que não soasse bem, mas eu gostaria que o senhor soubesse que eu o amo, muito. Tenho orgulho de ser chamado de Angelo, porque era o nosso nome, sinto vontade de abraçá-lo hoje e desejá-lo um feliz dia dos pais. E se eu escrevesse um cartão, estaria escrito:
“Pai, eu o amo muito, o senhor foi muito importante na minha vida infantil e me ensinou muito na minha prepotente adolescência, mesmo eu não me dando conta a princípio. Sinto a sua falta – Feliz dia dos pais”

Ps.: Ah! Pai, eu também choro quando eu escuto a música do Léo Canhoto e Robertinho - Meu velho pai.