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domingo, 17 de outubro de 2010

Uma carta de amor, ridícula.

É madrugada de sábado, a noite é silenciosa por aqui e os ponteiros do relógio adiantaram-se em uma hora. Hoje eu começo com algo que espero saber dizer completamente. Sinto vontade de ter você em meus braços e o desprazer de não conseguir é aterrorizante, ouço a saudade melindrosa fazendo melancolia. Nessa noite larga sinto a sua ausência e em noites como essas, eu careço da sua presença. Por fim rompi a carapaça que me privava de externar o meu sentimento por completo, me desvencilhei do medo de declarar o meu amor, por simples medo de perceber que a coragem me faltava.
Sinto uma conhecida sensação que Neruda descreve em seus poemas, que Vinicius narrou em seus contos, sinto a felicidade agora, clara, nítida e tudo soa tão belo, tão suave, é indescritível. Ainda não sou dotado de tais argumentos para delinear a alegria que preenche o meu corpo quando você está sobre ele, quando nos vemos, ou apenas quando ouço a sua voz ao telefone. Sinto-me envolto a uma telepatia cotidiana, repentina e agradável. Sinto que devo romance a você, que falhei por não expressar as minhas frustrações ocultas, de um mero jovem desencorajado pelos tropeços do passado, pelas cicatrizes do caminho tortuoso do amor; porém hoje me sinto abastado de coragem e ternura pra dizer a você que me conquistou por completo, da minha essência; você captou o mais perfeito, do meu lado ruim; você respeitou e silenciou-se, me deixou livre, me fez elo, me faz feliz.
Por ora, tudo seria tão redundante, tão previsível, porém, isso não são desculpas para que eu deixe algo flutuando; mereço ser explicito, refinado a um toque sutil, de algo entrelinha, dos meus gostos, das nossas alegrias.
Prefiro ser ao seu lado, prefiro sentir a saudade, a não senti-la; comovo-me por saber que você me encontrou, que dos mais comuns, eu fui o escolhido; daqueles que buscam o amor, eu o encontrei. Sim! Existe. E se me foge as inspirações, ainda terão os seus abraços para me aquecer e os seus lábios para me inspirar, meu refúgio em noites perturbadas, meu caminho em dias nebulosos, meu prumo.
Sinto-me forte para dizer que são os seus olhos que quero que me olhe, que quero suas palavras a me elogiar, e dos seus cuidados para me devolver o equilíbrio. E se todas as cartas de amor são ridículas como já escreveu Álvaro de Campos, essa não será menos ridícula, por que nela é nítida a minha insanidade, a minha alegria e o meu amor por você.


“É assim que te quero, amor,
Assim, amor, é que eu gosto de ti,
Tal como te vestes
E como arranjas os cabelos e como a tua boca sorri, [...]

Chegastes à minha vida
Com o que trazias, feita de luz e pão e sombra,
Eu te esperava,
E é assim que preciso de ti,
Assim que te amo,
E os que amanhã quiserem ouvir
O que não lhes direi, que o leiam aqui.
E retrocedam hoje porque é cedo
Para tais argumentos. [...]


Amanhã dar-lhes-emos apenas
Uma folha da árvore do nosso amor, [...]

Para mostrar o fogo e a ternura
De um amor verdadeiro”.

Pablo Neruda

sábado, 9 de outubro de 2010

Desapego

Vamos fazer uma faxina, desapegar das roupas velhas, das coisas que já não nos cabe. Retirar o pó das fotografias, sentir o cheiro agradável de limpeza. Vamos aproveitar pra ligar aos nossos amigos, avisá-los que estamos bem e deles sentimos falta nessa agitada rotina cotidiana. Proponho que apaguemos os dias cinza e enxerguemos o sol que nasce pela manhã de maneira nova. Tomar como desafio os problemas inevitáveis. Inventemos um novo caminho, poupemos de restituir o cristal quebrado, por ora, abandoná-lo-emos e viveremos aqui um novo dia. E vamos sorrir mais, agradecer e pedir, por favor, a cada pedido iniciado. Vamos viver na delicadeza e demonstrar o respeito tão escasso. Espero ansiosamente tornar o nosso dia mais fácil, menos triste. Vamos todos sorrir após o bom dia, mesmo aquele dado sem intenção, por puro responder.
Hoje o sol nasceu e iluminou o céu azulado entre poucas nuvens brancas, a terra secou e já começou a vida das plantas novas, do ser humano motivado, de nós, reles mortais. As árvores estão agitadas pelo toque do vento e esse é o ponto de renascer. Vamos partir daqui, motivados por nossa vontade sem esperar uma perspectiva dada. Por favor, não se destruía mais, diga: “Eu posso, eu vou ser, tudo é possível”. Vamos caminhar um pouco, enxergar a nossa vida de maneira saudável e com perspectiva, criar novos caminhos. Confio em você, me chame para compartir nossos planos, para rir, pra chorar e voltar a sorrir, por que não estamos sozinhos.
Vamos agradecer a Deus, pedir coragem e iniciativa. Vamos despejar a preguiça e o cômodo.
Escute as melhores músicas, saia pra dançar, divirta-se. Planeje o seu cotidiano, faça metas, escreva uma carta, sorria, dê prazer, faça carinho, seja educado e tudo será conseqüência. Viva!
Somos feitos de relacionamentos, seja afetivo, não seja individualista, não imponha a sua opinião ditatorial, escute, seja flexível. É inevitável a ira em algumas circunstâncias, mas isso não dá créditos para fortalecer a situação nefasta; respire, pense, a ajuda é bem vinda e um olhar raivoso, uma palavra dada com rancor ou apressada de mal grado é destrutiva é sufocante. Seja menos cínico, menos irônico. Havendo discordância, posicione-se de maneira diferente, faça um hábito, silencie-se! Não promova a discórdia, não há vencedores entre tal disputa estúpida.
Hoje comprei flores, fui feliz ouvindo músicas, liguei para os meus sobrinhos e disse a minha mãe o quanto ela é importante na minha vida.
Agradeço a Deus por ter mais um dia e a alegria dentro de mim.
Obrigado amigos, por ser tão fundamentais no meu desenvolvimento e desejo a vocês, a felicidade instantânea, pelo modo simples de ser felizes, das coisas simples, daquelas que não podemos possuir por simples gesto de comprar, aproveitemos o final de semana, cada um com a sua forma de realizar-se. Vamos ser felizes. Saúde e paz, iniciativa e entusiasmo para seguirem eretos e firmes. E o amor é algo belo, que temos que disseminar, é um ato que preenche o homem que oferece, e contagia ao que recebe. Vamos nos contagiar de afeto e busco sorrir pra você, de maneira que eu consiga transmitir essa alegria entre meus lábios, aqui.

sábado, 2 de outubro de 2010

Adormecendo a razão

Escrevo em uma noite chuvosa de sábado sentindo os ruídos lentos dos meus pensamentos. A chuva cai incessante e tornam esses dias um pouco melancólicos. Caminhei essa semana com jeans e moletom de capuz por um solo encharcado, pintado de marrom escuro, meio enlameado. Fiquei frustrado com as provas da Anpec e ando desanimado, recheado por um futuro sem perspectiva. Ligeiramente confuso, um pouco medroso. Talvez eu esteja olhando o mundo por lentes embaçadas, sofro de miopia e ela pode ser a culpada por distorcer também a realidade, talvez eu apenas precise calibrar a minha serotonina, por ora um chocolate ao leite deverá resolver. Penso nas piscadelas que dou e não sou dotado de exatidão a contá-las, são livres os minutos para retroceder ao passado, viajo entre ele e o presente, por que agora me limito a entender somente esses dois tempos. O futuro espera ansioso mascarado por uma película fina de criança inocente.
Às vezes o óbvio não me apetece e os detalhes me traduzem. Meu sorriso é ligeiro, minha atuação é engessada, padeço de um estado de calmaria pressionada, porém o bode expiatório é inexistente, por aqui não há sentenças, não existem culpados. Sou eu e meu silêncio brincando como adolescentes apaixonados. Há ausência de palavras, resta um espaço aqui dentro, que é difícil definir, não é exato. Então concluo que me vou encontrar entre cobertores e duplos travesseiros, adormecendo a razão e me aventurando nos sonhos nesse fim de noite.