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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tente não confundir



Por favor, não confunda esse sentimento de carência, egoísmo e posse com um sentimento nobre que é o amor.
Quem ama, ama por que precisa da felicidade do outro, isso independe da sua própria felicidade. Um exemplo de amor: “Mãe, posso ir brincar na rua agora a noite?” “Pode, mas não volta tarde que você tem que tomar banho”. É óbvio que ela não quer que você vá, ela está com medo que aconteça algo com você, afinal é noite. Porém ela quer que você seja feliz com seus coleguinhas. Um exemplo de amor incondicional, esse sentimento é tão puro que nós, reles mortais, estamos um pouco longe de alcançar. Seria muito bom se experimentássemos uma pitada desse amor nos nossos relacionamentos amorosos. Por isso, quando ousar dizer: Eu te amo, que seja verdadeiro. Amor não é paixão, posse, controle, isso é um processo de dificuldade de compreensão de sentimentos. Cresça, desenvolva, aprenda, não é fácil, mas é possível.

Lembrei dessa frase do Fernando Pessoa:

"Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não poderemos crescer emocionalmente. Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser único."

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Permita-se



Era noite de sexta-feira, de vento ligeiro que entrava pela janela aberta sem cuidado e sem respeito, deslizando sobre a mesa, soprando folhas de papel branco que aquele menino de cabelos curtos escrevia. Ali ele deixava marcas no papel, pressionva o grafite e descrevia a sua semana como se fosse um balanço semanal obrigatório. Descreveu como fora bom aqueles dias, que aprendeu e cresceu mais um pouco. Falou sobre a natureza que naturalmente o acompanha da escola até em casa, das ruas movimentadas, de pessoas e meios de transporte, tudo tão corrido, veloz, congestionado. Também escreveu sobre o quanto há pessoas abandonadas nas ruas, animais famintos, lixo nas sarjetas, e calçadas mal conservadas, observou que os toldos das casas aparentam marcas pretas de pingos contínuos de chuvas que mancham e fazem um caminho curioso, divagou sobre as sibipirunas floridas nessa época do ano e fez um teste: se ele sorrir primeiro e dizer bom dia é difícil a outra pessoa não fazer o mesmo, ainda que esteja com pressa e perturbada com a segunda-feira.
Conheceu um pouco de si próprio, falou consigo mesmo, refletiu. Parou um pouco e meditou ao lado da janela ao entardecer, fechou os olhos e tentou sentir um pouco daquele vento que antecede a chuva de verão, percebeu que a vida é algo passageiro quando soube que uma menina tinha perdido a oportunidade de crescer por morrer de leucemia dois meses depois de descobrir a sua doença. Pensou um pouco e pode imaginar como seria a vida de seus pais, do trabalho, da rotina, das responsabilidades que os cabem, a intenção de sustentar uma família, construir uma carreira, lidar com pessoas diferentes, de pensamentos distintos de personalidade incongruentes.
Reconheceu que a sombra pode ser uma diversão se você sabe brincar com as mãos, ela pode ser pássaros ou um cachorrinho, que não é tão ruim ficar no silêncio. Respirou fundo e pausadamente e percebeu que o equilíbrio não é encarar a vida como se fosse uma maravilha, recheada de alegrias ebrias e festas cotidianas, mas encarar a vida é estar encorajado a enfrentá-la. A superação é uma energia que nos motiva a ir mais longe e isso ele percebeu quando não conseguia realizar uma tarefa, após consegui-la sentiu-se vitorioso, deu um sorriso e gritou: “Mãe, eu consegui!”. Dizer a você que no momento está difícil é fato, continuar persistindo e aprendendo é preciso, vencer é indescritível, uma felicidade instantânea se instala e você sorri e diz: Eu consegui.
A noite ameaçava chegar, aquele vento sapeca cessou, trouxe nuvens carregadas de água que caia lá fora molhando os vidros da veneziana agora fechada, o som da chuva foi percebido pelo garoto que também escreveu: Ouço a chuva com prazer, ela molha tudo e todos, ela não poupa, ela acalma, refresca e me faz bem. Assim como o sol que toca a terra e a grama úmida ele não privilegia. E foi assim que ele terminou de escrever, os reflexos do tempo através do seu olhar, e percebeu que cada um pode olhar de maneira diferente para tudo, porém para refletir temos que nos conhecer e saber o que nos faz bem. Esse bem não pode ser prejudicial aos outros, que um sorriso não encobre uma tristeza interior, porém é uma boa maneira de evitar falar de assuntos que não corresponde a outras pessoas. Que a felicidade está em cada instante de tempo compartilhado ou sozinho, daqueles instantes dedicados ao construir e conhecer, de viver deixando a simplicidade explícita e nos abstendo das efemeridades óbvias que nos cria e nos aprisiona. O resto passa, tudo passa, o que permanece são aquilo que gardamos dentro de nós.
Permita-se a reflexão nos minutos que acompanham a sua rotina, para que um dia não pensemos que a vida passou e não tivemos a oportunidade de fazer o nosso balanço diário, ainda que às vezes ele seja semanal ou até anual.