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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Conversa com o meu avô


Era uma manhã de sol com poucas nuvens no céu, sentado ali no jardim a sombra de uma amoreira duas gerações conversavam:

            Quando sento aqui com o senhor para conversar sobre os meus problemas eu fico tão entusiasmado sobre as conquistas futuras e o meu desenvolvimento, que me esqueço de que enfrento problemas cotidianos, e ás vezes penso em não ter forças para prosseguir.
Vô: - Ah, meu querido, a sua companhia para mim é sempre um conforto, quando conversamos nessas manhãs de sol ameno e céu limpo eu também me sinto feliz, pois sempre precisamos ouvir e sermos ouvidos, necessitamos de pessoas amigas nas quais confiamos e nos têm respeito. Sugiro a você se desfazer da palavra “problemas” e substituí-la por oportunidades. Não admita que está sem forças para prosseguir, apenas que se sente um pouco cansado. Esse momento é um privilégio para a reflexão e para o delineamento para atividades futuras. São nesses momentos em que você está aberto para pensar com confiança nas coisas boas do porvir.
Neto: - Mas, então como eu faço para substituir a palavra “problemas” por oportunidades? Isso é difícil, uma maneira nova de encarar a vida e a realidade.
Vô: - É gracioso esse pensamento e tão natural, é simples, tudo o que nos acontece e a maneira como agimos é um desejo nosso. Nenhuma criança começa já andando, ela primeiro engatinha, depois dá seus primeiros passos, em seguida, ela anda e futuramente corre. Assim será com todos nós. Primeiro tente refletir que seus problemas, na verdade, são oportunidades de crescimento e todas as pessoas ao seu redor são meios nos quais você se inspira e as compreende.
Neto: - Entendi, mas como eu saberei se as pessoas ao meu redor são essas ferramentas para o meu progresso?
Vô: - Ah querido, você não é responsável pelos pensamentos, atitudes e decisões alheias, o objetivo é ter foco em você. É necessário não julgar as atitudes alheias, é preciso mapear o seu caminho de forma que  você se desenvolva sem prejudicar ninguém no percurso. Veja só um exemplo: um amigo meu trabalhou em um lugar durante seis anos e já não aguentava mais o mesmo marasmo, as mesmas coisas e a rotina, até que um dia ele recebeu uma nova proposta de trabalho e com isso ficou feliz, partiu dali e se aventurou nessa nova empreitada, passados dois meses ele concluiu que não queria mais aquilo e pediu pra voltar. Você consegue entender por que isso ocorreu?
Neto: - Ah. Não sei, talvez ele estivesse cansado de fazer as mesmas coisas, de ver as mesmas pessoas.
Avó: - É pode ser, mas o que eu queria que você compreendesse é a essência. Você tem claro o seu objetivo de vida, pelo menos a curto prazo? Você se conhece a ponto de perceber que suas ações o influenciam independentemente de onde estiver? Não basta somente você mudar de lugar, você precisa se modificar, ter novas ideias, novos pensamentos, atitudes diferenciadas e comprometimento com você, sem precisar fazer disso um castigo.
Neto: Difícil. E quando alguém faz algo que você reprova ou briga com você ou fala coisas indesejáveis? Você consegue ficar sereno e tranquilo em relação a isso? Você não sente vontade de gritar e discutir?
Com um sorriso tímido e amável o avô disse: - Ah meu garoto, isso é natural a todos, claro que isso é o primeiro sentimento e não se culpe por isso, mas é preciso que você compreenda essa pessoa, aquela que está te ajudando a melhorar suas ações, é necessário que você não devolva o que ela está te dando. A compreensão e a gentileza geram relações harmoniosas e há várias situações que permeiam as relações humanas, não são todos os dias em que as pessoas estão equilibradas. Há dias em que  você mesmo faz e fala coisas que não queria. Por isso, você deve se vigiar e conviver de maneira que haja o discernimento nas suas ações. Se não é possível sorrir e dizer palavras gentis, limite-se ao silêncio, não se faça de vítima, apenas compreenda a situação e mude de atitude. Se você errou, não fuja de sua responsabilidade, busque mecanismos para solucionar o problema. Que objetivo você tem de encontrar o culpado, se a solução é o melhor caminho, e o aprendizado é o objetivo comum para o bem da coletividade?
Neto: - Muito fácil falar isso, mas é difícil agir.
E novamente com paciência o avô disse: - E quem disse que é fácil agir? É como tudo na vida, os primeiros passos são essenciais. Não queira promover coisas grandiosas se você não tem um bom alicerce para isso. Vá completando, aos poucos, dia a dia, um ciclo que o preparará para um futuro brilhante. Se instrua, conviva bem, silencie-se, promova conversas edificantes, fuja das mediocridades de palavras fúteis sem objetivo de crescimento, não perca seu tempo. Conservar o mau humor e as intrigas, só lhe servirá para se limitar e se estacionar em um piso cimentado que o impedirá de prosseguir.
Neto: - Então, praticamente o que devo fazer? Ser feliz com todo mundo, alegre, encarando os problemas como oportunidades sem atritos e contendas? Isso é utópico demais.
E o avô parecendo se divertir respondeu: - Você é tão engraçado, sabia? O objetivo é esse sim, porém, seria desumano dizer que isso é alcançado imediatamente, tudo que passamos é efêmero, ou você já viu alguém viver para semente? Confie em você, estude, se instrua, conheça, faça boas amizades, vigie o seu comportamento e aos poucos você irá solidificar a sua base para crescer forte. Todas as nossas angústias e desesperos são momentâneos e ninguém sofre pra sempre, assim como ninguém é feliz a todo momento. Você precisa se organizar e viver a vida de uma maneira a não dar valor a coisas passageiras. O que ficará é a sua conduta e o desejo de ter feito coisas que vão ao encontro de seus ideais. Um dia você estará velho, como eu, e se sentirá feliz por ter alcançado coisas através da gentileza, do comprometimento e da verdade. Não se culpe por atitudes alheias e não se sinta responsável por aquilo que não te compete, viva, tenha paciência, converse, faça algo de bom para você e para as pessoas ao seu redor, não é necessário mudar o mundo, mas modifique o seu redor, plante um jardim e você sempre terá árvores para se proteger do sol ardente.
Neto: - Sabe vô, gosto muito de conversar com o senhor, embora eu seja um garoto imediatista e ansioso. Com seus conselhos, aos poucos, vou amadurecendo e vivendo o dia a dia. Eu sei que na maioria das vezes eu não entendo e, por isso, é necessário praticar. Obrigado por me ouvir e por ser tão generoso com suas palavras.
Vô: - Ah, que garoto inteligente, isso aí, e lembre-se: busque o seu aperfeiçoamento por si só, respeite os outros, busque crescimento em você e para você, no seu tempo, afinal cada um precisa aprender. E vamos almoçar que a sua avó já está nos chamando.
E assim terminou a conversa entre o avô e seu neto.