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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Como eu me lembro dela




Sabe aquelas pessoas de quem você chega perto e se sente bem? Que desconhece e logo vira amigo e começa uma conversa entre risadas e quando vê já amanheceu? Talvez você já tenha tido alguma experiência assim, pois é, ela era assim. Cabelos castanhos curtos, com lóbulo colado e marcada por cicatrizes de acnes que adquiriu na adolescência. Seu sorriso era espontanêo e verdadeiro, tinha uma pinta na perna esquerda e suas sobrancelhas eram ralas, seus olhos miúdos e sua boca, hmmm... apetecedora. 

Gostava de gérberas e lantanas, seu perfume era frutal e não media mais que um metro e setenta. Conheci Jesse & Joy, Julieta Venegas, Bensé, Yiruma, Alexander Rybak e tantos outros cantores através do seu fone de ouvido. Descobri, que A festa de Babette,  Immortal beloved, Big Fish, Miss Potter e Orgulho e Preconceito estavam entre seus filmes favoritos. Aprendeu tocar violino, porque se apaixonou pelo protagonista Andrea de Ladies in Lavender. 

Tomava café sem açúcar e gostava de suco de caju, quando ofereciam doces a ela, pegava apenas um pedacinho, comia rápido e agradecia com um sorriso. A ouvi dizer que um quarto organizado com cheiro de lavanda, lençois e fronhas perfumadas com amaciante, pijama liso sem estampa a faziam feliz. 

A última vez em que a vi era manhã de sol, vestia uma calça jeans azul, um sapato preto e uma camiseta básica branca, estava com seus olhos úmidos, porque o rímel que usava estava borrando seus olhos tristes. Cumprimentei-a com um bom dia e perguntei se estava tudo bem, ela sorriu com o canto da boca e disse, quase sussurrando: “agora sim”. Foi o último dia que a vi. Ela deixou as lantanas, que plantara na entrada do prédio solitárias, e no meu coração um vazio que até hoje não foi preenchido.