Fui nascendo em você. Descobrindo lugares desconhecidos que passaram a se tornar comuns. A minha retina foi percebendo e se assustando, mas aos poucos fui me redescobrindo. Abri portinhas dentro de mim que pensava seladas. Elas estavam à espreita para serem empurradas, não estavam cerradas.
Quando estive ao seu lado, não conseguia perceber que a vida também
passava sobre mim, o ar, o sol, a sombra estavam ali, mas você exercia um poder
de atração tão pleno que o tempo se suspendia e eu somente mirava seus olhos
fixos, seu cabelo preto, o seu sorriso largo.
Concordei em embarcar nessa aventura, essa que covardemente hesitei por
algumas poucas vezes que me deram a oportunidade. Não sei explicar o motivo da
minha coragem insensata, sabia que poderia cutucar as feridinhas do meu coração
e talvez, novamente, elas pudessem sangrar.
Hoje me deparo novamente com aqueles sentimentos adormecidos e os
desperto. Custa admitir que sinto e que me emociono. As árvores da rua que me
acolhem com suas grandes folhas, seus grandes galhos, sua sombra fresca, seu
manto acolhedor é hoje mais verde, mais feliz. Converso com elas, falo sobre a
beleza da vida que pulsa dentro de mim por estar com você no pensamento.
Parece piegas demais concluir e afirmar tudo isso, mas não estaria eu
sendo esse humano bobo e recheado de ilusão se não admitisse essas obviedades.
Estou vivo, tremo, tenho medo e tenho vontade. Sinto, adormeço, velo e volto a
adormecer.
Eu sou aquilo que sinto e não aquilo que aparento. Sinto a alegria, a
tristeza, a vida, a intempérie, a ilusão, os planos. Sinto a ansiedade, o medo,
a insegurança, a inércia, o cansaço. Aparento o equilíbrio, a sensatez, a
palavra pausada. Entre o ser e o parecer vivo os dias úteis e os finais de
semana como se fosse uma batalha diária. Gaguejo, recuo, cansado fico, exausto
atuo.
Para o dia, me reservo o sol entre as nuvens e quem sabe uma chuvinha
antes do entardecer. Para a noite, gostaria de estar entre seus braços
morninhos e sentindo sua respiração bem acima da minha cabeça enquanto minhas
orelhas aquecem sobre seu peito nu.
Porém, como a presença não é uma possibilidade exercito a imaginação e
idealizo esse reencontro. Para o futuro espero, para o presente vivo.
Um beijinho e um par de abraços!