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sábado, 25 de fevereiro de 2017

O tempo e a sua filha experiência


Era uma noite amena, com brisa leve e céu limpo. As ruas eram mal iluminadas, o vento o espreitava pelas esquinas e o atacava ao cruzar as ruas. Ele caminhava em calçadas estreitas, de mãos protegidas no bolso do casaco rumo ao sarau literário, um encontro com seus amigos. Desconhecia que aquela noite ele experimentaria a felicidade.

Compartilhou momentos com seus amigos, entre poemas e contos bebeu vinho verde, branco e tinto, riu de gargalhadas, se emocionou. Ouviu atento aos seus colegas recitar Florbela Espanca, Caio Fernando Abreu, Camões e outros tantos artistas da Literatura que fez seu coração encher ainda mais de entusiasmo e confiança. Saiu com eles, foram dançar. 

Chegou a um bar de pouca luz ao som de um rock americano conhecido, sentaram-se em uma mesa e continuaram a conversar. Entre músicas que cantavam desafinadamente de cor encontraram mais outro grupo de amigos, cumprimentou-os e estabeleceram sintonia.

Nessa hora o tempo não é registrado, não se dá valor a ele e é por isso que ele corre mais rápido. Esse tempo que aprisiona às vezes liberta, não marca, não urge! Pobre do tempo, mal dito por uns e elogiado por outros.

Estava envolto a uma atmosfera de alegria, amizade e música. Riam muito, estavam materializando a felicidade naquela noite de sexta, fizeram uma roda, cantaram juntos. Não percebeu que a madrugada lhe tocava, talvez motivado pela embriaguez e pela felicidade que residia em tantos corpos afins, ele se divertiu como se não houvesse amanhã.

Trouxeram-no para a casa, pelas mesmas ruas de calçadas estreitas. Entre conversas animadas pode conhecer a delicadeza de abraços fraternos e olhares cuidadosos. Colocaram-no na cama, ofereceram-no água, iluminado pela luz do abajur ele repousou.

Ele escreveu: Você não me disse oi!

Ele leu: Oii (desta vez não me esqueci do oi XD).

Ele escreveu: Ainda estou um pouco confuso sobre o que houve ontem. Espero que não o tenha magoado. Obrigado por se portar tão gentil e carinhoso comigo. Realmente eu não poderia ter bebido tanto. Eu imagino que fui um pouco imprudente, mas confesso que eu gostei da nossa conversa. Seu cheiro está por aqui, na fronha, nos meus dedos da mão direita. Sabemos que nada aconteceu, apenas vimos o dia nascer conversando. Se isso não estivesse acontecido eu nunca poderia ter tido a oportunidade de ser tão feliz, como fui contigo, compartilhar uma cama estreita, barulhinhos na barriga, risos frouxos e tentativas frustradas de piadas bobas. Obrigado! Você pode voltar?

Ele sentiu: Não sei, talvez um dia, ou uma noite, mas não creio que possa acontecer tudo novamente.

Nada é possível acontecer novamente. As experiências são assim mesmo, filhas do tempo, é natureza delas só nos pode tocar uma única vez por experiência. São descartáveis? É bom? É ruim? Não é uma questão de classificação, é assim! O incrível é poder experimentá-las e quando são dotadas de sensíveis e agradáveis manifestações e fenômenos emocionantes são pra sempre. Elas são raras, guardadas nas caixinhas organizadas pelo senhor seu pai.