Era uma noite amena, com brisa
leve e céu limpo. As ruas eram mal iluminadas, o vento o espreitava pelas
esquinas e o atacava ao cruzar as ruas. Ele caminhava em calçadas estreitas, de
mãos protegidas no bolso do casaco rumo ao sarau literário, um encontro com
seus amigos. Desconhecia que aquela noite ele experimentaria a felicidade.
Compartilhou momentos com seus
amigos, entre poemas e contos bebeu vinho verde, branco e tinto, riu de
gargalhadas, se emocionou. Ouviu atento aos seus colegas recitar Florbela
Espanca, Caio Fernando Abreu, Camões e outros tantos artistas da Literatura que
fez seu coração encher ainda mais de entusiasmo e confiança. Saiu com eles, foram dançar.
Chegou a um bar de pouca luz ao som de um rock americano conhecido, sentaram-se
em uma mesa e continuaram a conversar. Entre músicas que cantavam
desafinadamente de cor encontraram mais outro grupo de amigos, cumprimentou-os
e estabeleceram sintonia.
Nessa hora o tempo não é
registrado, não se dá valor a ele e é por isso que ele corre mais rápido. Esse
tempo que aprisiona às vezes liberta, não marca, não urge! Pobre do tempo, mal
dito por uns e elogiado por outros.
Estava envolto a uma atmosfera de
alegria, amizade e música. Riam muito, estavam materializando a felicidade
naquela noite de sexta, fizeram uma roda, cantaram juntos. Não percebeu que a
madrugada lhe tocava, talvez motivado pela embriaguez e pela felicidade que
residia em tantos corpos afins, ele se divertiu como se não houvesse amanhã.
Trouxeram-no para a casa, pelas
mesmas ruas de calçadas estreitas. Entre conversas animadas pode conhecer a
delicadeza de abraços fraternos e olhares cuidadosos. Colocaram-no na cama,
ofereceram-no água, iluminado pela luz do abajur ele repousou.
Ele escreveu: Você não me disse
oi!
Ele leu: Oii (desta vez não me
esqueci do oi XD).
Ele escreveu: Ainda estou um
pouco confuso sobre o que houve ontem. Espero que não o tenha magoado. Obrigado
por se portar tão gentil e carinhoso comigo. Realmente eu não poderia ter
bebido tanto. Eu imagino que fui um pouco imprudente, mas confesso que eu
gostei da nossa conversa. Seu cheiro está por aqui, na fronha, nos meus dedos
da mão direita. Sabemos que nada aconteceu, apenas vimos o dia nascer
conversando. Se isso não estivesse
acontecido eu nunca poderia ter tido a oportunidade de ser tão feliz, como fui
contigo, compartilhar uma cama estreita, barulhinhos na barriga, risos frouxos e tentativas frustradas de piadas bobas. Obrigado! Você pode voltar?
Ele sentiu: Não sei, talvez um
dia, ou uma noite, mas não creio que possa acontecer tudo novamente.
Nada é possível acontecer
novamente. As experiências são assim mesmo, filhas do tempo, é natureza delas só nos pode tocar uma
única vez por experiência. São descartáveis? É bom? É ruim? Não é uma questão de classificação,
é assim! O incrível é poder experimentá-las e quando são dotadas de sensíveis e agradáveis manifestações e fenômenos emocionantes são pra sempre. Elas são raras, guardadas nas caixinhas organizadas
pelo senhor seu pai.
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