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sexta-feira, 31 de março de 2017

Quem são eles? - Cena I

Quem são eles?



DRAMA

            Uma epifania, um fluxo de consciência, uma hipótese qualquer, um indivíduo. HMM... Modelos escondidos.

PESSOAS

Fernando
Clarice (Estrela)
Manoel (Pantanal)
João (Leitão)
Alberto (Sapo Cururu)

Lugar de cena: Um quarto de dormir


PRIMEIRO ATO

            Quarto estreito e com pouca claridade. Recebe pequena quantidade de luz da iluminação pública, que provém de um poste de esquina que pisca sua lâmpada epilética. Mancebo, cômoda, cama de solteiro, colcha de retalhos, travesseiro Ce Soir, castiçal de latão solitário com regulador de altura, toco de vela sobre um criado mudo revestido por jornais velhos, um despertador, dezenas de envelopes abertos e cartas dobradas sobre uma escrivaninha de madeira. Na frente da cama, uma cadeira de plástico e uma janela aberta, donde se vê um terreno baldio. – É começo da noite.



CENA I
Fernando

FERNANDO abre a porta do quarto, os pés descalços, todo molhado, coloca sua mochila sobre a cama e seca seu cabelo na toalha depositada em cima da cadeira. Abre o vidro da janela e já não chove.

            FERNANDO (conversa consigo mesmo olhando para o céu através da janela) –
Depois de um dia comum, volto para a casa todo molhado, roubado. Sem sapatos, sem vontade de continuar. Penso sobre essa vida medíocre que vivo nesse quarto sem luz, recebendo cartas de amigos distantes, inquilinos de minha memória. Tratado e sofrido por um transtorno dissociativo de identidade, mas nunca diagnosticado, fruto de uma mente criativa, renegada à margem de uma sarjeta da própria insignificância. Um procrastinador de tarefas imediatas, de compromissos firmados sem o desejo de cumpri-los. (Suspiro.) Ah! Se soubessem como tenho sido um ator na peça da vida cotidiana, um fingidor encarando as segundas-feiras com entusiasmo e resignação longe de apresentar a realidade padecida, que a trago guardada em meu peito e quase nunca rompe o silêncio selado por meus lábios finos. (Torna a suspirar, gira a cabeça para dentro do quarto e olha para a escrivaninha, puxa a cadeira de plástico branca para frente dela, se senta e abre uma carta dobrada.).

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