Quem são eles?
DRAMA
Uma epifania, um fluxo
de consciência, uma hipótese qualquer, um indivíduo. HMM...
Modelos escondidos.
PESSOAS
Fernando
Clarice
(Estrela)
Manoel
(Pantanal)
João
(Leitão)
Alberto
(Sapo Cururu)
Lugar
de cena: Um quarto de dormir
PRIMEIRO
ATO
Quarto
estreito e com pouca claridade. Recebe pequena quantidade de luz da iluminação
pública, que provém de um poste de esquina que pisca sua lâmpada epilética. Mancebo,
cômoda, cama de solteiro, colcha de retalhos, travesseiro Ce Soir, castiçal de latão solitário com regulador de altura, toco
de vela sobre um criado mudo revestido por jornais velhos, um despertador, dezenas
de envelopes abertos e cartas dobradas sobre uma escrivaninha de madeira. Na
frente da cama, uma cadeira de plástico e uma janela aberta, donde se vê um
terreno baldio. – É começo da noite.
CENA
I
Fernando
FERNANDO abre a porta do quarto, os pés
descalços, todo molhado, coloca sua mochila sobre a cama e seca seu cabelo na
toalha depositada em cima da cadeira. Abre o vidro da janela e já não chove.
FERNANDO
(conversa consigo mesmo olhando para o céu através da janela) –
Depois de um dia comum, volto para a
casa todo molhado, roubado. Sem sapatos, sem vontade de continuar. Penso sobre
essa vida medíocre que vivo nesse quarto sem luz, recebendo cartas de amigos
distantes, inquilinos de minha memória. Tratado e sofrido por um transtorno
dissociativo de identidade, mas nunca diagnosticado, fruto de uma mente
criativa, renegada à margem de uma sarjeta da própria insignificância. Um
procrastinador de tarefas imediatas, de compromissos firmados sem o desejo de
cumpri-los. (Suspiro.) Ah! Se soubessem como tenho sido um ator na peça da vida
cotidiana, um fingidor encarando as segundas-feiras com entusiasmo e resignação
longe de apresentar a realidade padecida, que a trago guardada em meu peito e
quase nunca rompe o silêncio selado por meus lábios finos. (Torna a suspirar,
gira a cabeça para dentro do quarto e olha para a escrivaninha, puxa a cadeira de
plástico branca para frente dela, se senta e abre uma carta dobrada.).
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