É madrugada de terça-feira e ainda sem sono, penso em você. Sim, é
inevitável, brota em um instante o seu sorriso na minha
mente e nos segundos seguintes meu sorriso também aparece. Ontem eu ouvi
aquela música sem chorar. Tudo bem; confesso, fiquei saudoso,
melancólico, pensativo, em silêncio, até ela terminar. Qual música? Ué!
Aquela que decidimos ser nossa, que agora é apenas minha, porque você
não está. Fui pego de surpresa, queria pedir para desligar o som, mas
quem sou eu para impedir que ela tocasse o coração de outros
apaixonados. Uma música bobinha, mas quem tem o poder de julgar uma
canção que nunca teve um significado? As músicas são perfeitas para
fazer isso, transformar seu sentimento em melodia. O estranho ou o
natural disso tudo, desse turbilhão de sensações que sinto, é que ainda
penso em como eu gostaria que fôssemos, usávamos os verbos conjugados no
futuro e eu agora os conjugo no passado.
Sim, dói um pouco, mas
logo passa. Como escreveu o escritor Caio Fernando, "vai passar não
minto", mas sinceramente, desejaria que você cantasse Vambora da Adriana
Calcanhoto. Apesar dessas reflexões eu acho que está passando, e essa
sua ausência está me fazendo bem, já não mais encontro você nos meus
sonhos e as noites têm sido mais calmas, ainda que continue escrevendo
sobre você, porém, isso deve ser natural. No silêncio, finjo ser forte e
me refugio na leitura como escudo emocional. Tenho pensado menos em
você e espero que o tempo cuide dessas minhas esperanças ilusórias. A
curiosidade me toca quando beira às dez e penso no que você está
fazendo, no que ocupa seus pensamentos. Talvez apenas o trabalho ou um
novo amor brotando em um solo do qual fui removido. Cumpro os afazeres
cotidianos por obrigação, e sigo respeitando o seu silêncio como forma
de agradecimento por me tornar tão sentimental. Embora gostaria que
fosse diferente, que você me ligasse, que me fizesse suspirar novamente,
porém compreendo, nada me fará esquecer que gostava de como você reagia
às minhas cócegas, da comunicação graciosa do seu sorriso com os meus
lábios, do meu olhar a encontrar você. Aquele brilho está aqui, um pouco
apagado, mas vivo, belo e adormecido. Racionalmente já não consigo te
descrever com adjetivos de coragem, astúcia, verdade, sinceridade,
qualidades que lhe serviam tão bem, no entanto, agora, seria incapaz de
usá-los para tal fim. Continue assim, longe de mim, até que esse
sentimento evapore, liberte-se e eu consiga ouvir novamente essas
canções torpes sem pensar em você.