Pesquisar este blog

domingo, 7 de junho de 2009

Ainda tenho dúvida se você lerá.

Manhã de sexta-feira, 5 de junho de 2009.

Há 26 dias não tenho recebido notícias suas, e há 26 dias tenho vivido dias distintos. Resolvi esta manhã te escrever. Embora receoso, animado escrevo a última carta que leria, como tantas outras que enviava a você pelo correio ou entregava nas madrugadas de sexta-feira naqueles envelopes coloridos. Apesar do Outono esta presente, parece inverno, um frio que castiga quem não se acostumou a senti-lo, são esses dias que aguardo solitário um telefonema seu, uma mensagem, um sinal. Parecem bobagens, mas ainda espero, por enquanto, até hoje.
Faltaria com a verdade se dissesse que tudo que ofereci a você foi apenas para te fazer feliz, também seja a conseqüência, mas o que fiz foi para me tornar mais completo, ser intenso, demonstrar aquela energia que existia dentro de mim e a motivação dos dias felizes que transformava ela em atos que às vezes você não entendia.
Era uma felicidade caminhar com você sempre ao meu lado direito, ali inventava uma vida que nunca soube que existiria, eu desejava. Você deve lembrar da casa de campo que teríamos para seus pais, ou a nossa casa que deixaríamos nos finais de semana pra visitá-los? das paredes verdes que teríamos na sala e o seu vermelho no quarto? Queria um filho você recusava, apesar de eu saber também que teríamos muito caminho a percorrer antes disso, eu me contentava em aludir a idéia, como sempre você dizia que eu era uma pipa, e que teria que me ajudar a voltar ao chão. Era fantasias idealizadas que eu gostava de conversar com você, não precisava encarar como real ou certo, te chamava de amor, agora nem sei o seu nome, seus pensamentos eram previsíveis, sua fadiga depois de comer era cotidiana, eu evitava a TV. você a almejava. Filmes de terror era difícil pra mim com você era um passatempo, você dizia que os meus filmes eram tristes, não, não eram, eles narravam sentimentos, os mesmos que você até aqueles dias não conseguia entender.
Essa carta não é motivo para se lastimar por minha razão, eu tenho amigos maravilhosos, e como eles são essenciais em momentos assim, eles fazem maravilhas. Tenho ido a igreja, você não gostava de me acompanhar nas missas, tem sido tão bom. A faculdade está indo bem, final de semestre e como sempre um pouco conturbado.
Foi naquela manhã de 10 de maio, ensolarada pouco antes das dez. Seria injusto dizer que eu não te amei, ou não me entreguei de corpo e alma, foram doze meses vivendo você e não era sacrifício algum, afinal era alimento, adorava te ligar e dizer que tinha uma surpresinha, e sentir aquela sensação indescritível no peito. Guardo naquela caixa verde as poucas cartas que ganhei de você, os cartões que eu te ensinei a retribuir e a insistência que tive para você sempre datar e escrever dentro deles. Recordo dos sucos de manga e goiaba, do pote de 1 kg de sorvete que sempre tinha na geladeira, das brincadeiras bobas que eu fazia, de como eu dizia, “fecha o olhinho,” e suspirava no seu ouvido, pelas costas, “eu te amo”, as conversas intermináveis do seu trabalho que eu ouvia e participava, quando me beijava, eu insistia em me elevar nas pontas dos pés nem sei por que, te abraçava te protegendo e te beijava por todo o rosto, por todo o corpo, adorava te olhar de frente até que nossos narizes se encostassem, sentir a sua respiração era tão confortável e te acordava com “bafinho” de leão e com um bom dia Coração.
Nestes últimos dias sinto as saudades previsíveis, e a vontade de saber como você está, se sente a minha falta, se eu te fiz feliz.
Sei que você nunca foi feliz com as palavras, sua caligrafia era linda, mas era tímida quando se tratava de escrever. Acabou e hoje eu te escrevo, talvez a despedida necessária que eu deveria expressar naquela manhã de Domingo que as palavras faltaram, mas que os olhos não deixaram de expressar a falta que eu sentiria. Adeus.
A.R.

4 comentários:

  1. Lindo post de Ficção/Realidade!
    Parabéns Betão!
    Já está nos meus Favoritos! hehehe
    Abraços
    Ton

    ResponderExcluir
  2. Felicidades sapito, wow un texto lleno de detalles y sentimientos.
    Estoy contigo siempre, en todo momento.

    ResponderExcluir
  3. Obrigado Ton pelas palavras e pelos cumprimentos.
    Niña querida, wow merci por ese detalle, imposible olvidarte, siempre conmigo.

    ResponderExcluir