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sábado, 24 de abril de 2010

Cortinas fechadas

Era uma daquelas noites quentes e atípicas de outono; de ar parado, de céu estrelado e ruas desertas. Concertei as minhas frases e resolvi submeter apenas um discurso programado. Fui refém da delicadeza e da perspicácia dos beijos encontrados, das carícias desbravadoras e da sensação de frio que sinalizava um prazer instantâneo. Eu senti sobre as minhas costas uma leve brisa tépida e sobre a minha boca uma outra igualmente sapeca e saborosa, intensa e cheia de vontades. Decidi de pronto fechar os olhos para que o meu corpo resistisse o irresistível. Cedi por vontade própria, sorrindo e desejando você a cada movimentação das minhas mãos.
As horas voavam e eu não as enxergava, não as reconhecia, talvez seja por que o brilho das suas pupilas estavam refletidos nas minhas e a atenção era voltada para uma espécie de braços largos, de sorriso maroto, de carinhos cobiçados. E naquele momento eu não pediria nada mais, além do abraço e dos pares de beijos. Segundos antes de beijar você, eu alimentei os nossos beijos com sorrisos, e eles me fizeram tão bem.
E é tão irresistível, como água fresca no deserto. Das suas características, eu posso dizer daquelas peculiares brincadeiras infantis e aquela maneira de mudar a voz quando fala gesticulando imitando alguém, tudo muito admirável. Também posso dizer que a sua torta de banana é saborosa. Nada, além disso, me sinto responsável.
Quando o sol toca a sua janela entreaberta e o despertador faz o seu trabalho, eu aspiro deter o poder de fazer noite, para viver tudo outra vez, mas já é outro dia útil. Faz sol e há pessoas nas ruas, apressadas e cansadas.
Os dias por aqui viajam no tempo, o registro está com as pilhas fracas, como cortinas fechadas, isoladas. Às vezes ando ansioso demais, às vezes eu conto os passos que dou nas calçadas de paralelepípedo. Hoje aqui é monótono e lento. É inútil dizer, é óbvio, que é inverso quando estamos juntos. Dos seus cabelos castanhos, os meus dedos são tão íntimos, suspenso no ar, garanto que tremo quando as suas carícias são exatas e permanentes, você conhece meus pontos fracos e não disfarça em agir ali como um explorador, sou um escravo que não sabe viver sem eles.
Os minutos são livres e não vejo a hora de ver novamente, de praticar coisas distintas, ainda que me tenha dado apenas uma noite. Não reconheço a sua ansiedade e não sou dono dos seus pensamentos, a imprevisibilidade toma conta dos meus interesses, mas eu nem ligo. Eu disfarço e sorrio.
E por isso que meus dias são imprevisíveis e meu humor varia em uma escala não natural que eu me surpreendo com os meus atos, antes tão pensado, hoje algo nem tão pronunciado.

4 comentários:

  1. "As horas voavam e eu não as enxergava, não as reconhecia, talvez seja por que o brilho das suas pupilas estavam refletidos nas minhas "

    Simplesmente amei isso...pra mim esse é o nome da cumplicidade. De gestos calados, mas que falam mais alto que um megafone. De ver no outro a mesma pureza de sentimentos que está em nós.
    Ah Angelo, ando sentindo tantas saudades das minhas cortinas fechadas que de uma hora pra outra foram escancaradas e levadas de mim.
    Imaginei a cena em minha mente, tal qual quando escrevi Reflexos dos sonhos..
    Sonhei um sonho bom.

    beijo,

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  2. Belo texto!
    Me pergunto... Quem são suas personagens? Será vida real? Mas a verdade é que não quero saber a resposta, ela faria toda a arte se render ao óbvio. Gosto do seu mundo de sonhos e sentidos.

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  3. Ei Angelo, tive que apagar o teu comentário pq deu um bug no blog! =\
    Engraçado que apareceu o comentário do blogger pra você, mas estou usando o do IntenseDebate.
    Acabou que o comentário do blogger apagou os do IntenseDebate!
    Dá uma olhada pra mim depois? Se quando você clica em comentar qual estilo vai aparecer?

    Babo com seus textos! Não sei escrever uma linha, por isso meu blog é no estilo meu querido diário! rs


    Beijos

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  4. Ual!

    Vc tem um modo muito peculiar de descrever sensações. Muito eficiente, invejo isso. Se vc diz: "...das carícias desbravadoras e da sensação de frio que sinalizava um prazer instantâneo", vc é capaz de fazer o leitor sentir exatamente isso, como se estivesse lá, sentindo o tempo todo aquela sensação no estômago que nos avisa que estamos prestes a viver um dos momentos mais intensos de nossas vidas.

    Em uma palavra: parabéns!

    abraços.

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