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quinta-feira, 15 de julho de 2010

O que me resta?

É noite fria de quarta-feira e por aqui é tão silencioso que posso escutar os meus batimentos cardíacos. O vento sopra com intensidade e gela tudo em que ele toca, as luzes dos prédios vizinhos se mesclam com as da rua e através da janela do sexto andar eu procuro o seu caminhar.
Hoje não há estrelas no céu, sobram pingos de chuva, faltam lugares secos. Se eu conseguisse colorir o meu dia, usaria as cores dos seus olhos, como as variantes do guache, dos seus castanhos escuros. Acredito que as pinceladas suavizaram o preto do nanquim nestas nefastas escalas de cinza que mais parece uma neblina acinzentada em meio ao esfumaçado cotidiano.
Os meus olhos beiram nuvens encharcadas que são sopradas quando caminho pelas calçadas íngremes. Sugiro que me venha buscar, por que hoje eu sinto tanta a sua falta que parece insuportável continuar vivendo sem você.
Por ora, escrevo para me livrar desse peso que é invisível e doloroso, para minimizar a saudade, para pensar em você direcionadamente. Já não posso ocultar o desejo de encontrar o seu sorriso e me imagino escrevendo com vontade de que minhas palavras, dotadas de som, toquem seus ouvidos distraídos.
A madrugada já começa e as minhas cobertas estão perdendo a batalha e a esperança parece chama, que no fim de uma vela está acabando.
Parelho um palhaço escrevendo bobagens e me enrubesço por imaginar o seu deboche diante dessas linhas dramáticas. As agulhas finas dos ponteiros do relógio de pulso giram pausadamente e eu não sei fingir que estou bem e seria insuficiente fugir, correr, ou fisicamente me ausentar, por que você está dentro de mim e eu não consigo desalojá-lo.
Eu não me importaria tanto com o inverno, o frio, se você me conjugasse, convocasse. Seria um verbo em seus lábios, uma brisa em uma piscada, uma saudade representada que aguarda um breve existir entre ruas paralelas.
O meu desejo em ver você outra vez é multiplicado por cem se eu revejo uma foto sua e contemplo o seu olhar estático e o seu sorriso entreaberto.
É engraçado dizer, mas eu sou um covarde, um tolo imediatista que a ansiedade corroe e a distância brinca de esconde-esconde me fazendo birra.
E entre pensamentos o vento regressa e faz tremer a janela do meu quarto, já não sei definir se é apenas um balanço comum, ou a provocação de uma janela feliz por ser tocada por algo que vem de tão longe, comparando comigo que estou tão perto e desconheço o toque lento das suas mãos, já não sinto o seu cheiro, ele se desgrudou e agora me resta o vento, o frio, o sono.

4 comentários:

  1. Nosso profundo capaz de conduzir a uma viagem a lugares intangíveis da mente.
    O que te resta é ser feliz... pode ter certeza!

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  2. "...já não sinto o seu cheiro, ele se desgrudou e agora me resta o vento, o frio, o sono."

    lindo e complemento:

    ... te sinto ainda tão impregnado em mim que me basta imaginar e quase sentir os seus toques, a suavidade de teus beijos e o calor do teu corpo.A minha memória não tem mais seu aroma, mas os timbres da tua voz e do teu riso ainda ecoam na mente como música para meus ouvidos...

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  3. A vida às vezes se apresenta tão derradeira e silenciosamente angustiante. Por algum motivo o vento do destino bate aterrador e impiedoso em nossas janelas e despedaça coisas importantes, coisas que por muito nós empenhamos arduamente em construir e manter deixando apenas a vaga porém reconfortante lembrança dos velhos tempos.

    O que, ou melhor, quem me resta depois da tempestade? O quão longe ainda terei que caminhar sozinho até encontrar o que/quem procuro?

    Adorei o(s) seu(s) texto(s) continue escrevendo e espero que da próxima vez que esse vento soprar seja uma doce brisa de primavera. Xau...

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  4. Obrigada mais uma vez...
    Toda sorte e toda a beleza do mundo a você...
    ^^

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