Aconteceu em outono, em uma
noite de lua cheia. O quarto estava iluminado por um brilho intenso, que invadia a porta da
sacada de vidro com naturalidade, e em conjuto criava uma atmosfera de
aconchego, segurança e felicidade. Sob um pequeno castiçal de vidro, uma vela
apropriada no canto de uma mesa de madeira, fazia a magia acontecer. Ao som de
Tiago Iorc, Antologia, Yellow e Let her go, eles se amaram. Gato negro atenuou
a timidez de ambos e aos poucos suas mãos foram se tocando. Ele descobriu que
há uma relação harmoniosa entre água com gás e vinho, que o silêncio pode
significar muitas coisas, que liberdade é uma dádiva, se você está equilibrado.
Ela acreditou que poderia descrever aquele momento em uma imensa narrativa e
passou a entender que era incompetente em escrever um simples parágrafo.
Enquanto ele buscava as taças na cozinha, ela o enviava mensagens, para que
mais tarde pudesse ter uma singela ideia do que fora aquele instante. Uma
estratégia sagaz para tentar capturar e eternizar momentos. O ar era uma
mistura de brisa fresca, sorrisos contidos, e um cheiro agradável de incenso de
lima da Pérsia. Conversaram sobre sonhos em comum, como ter uma horta de
temperos, três crianças, uma fogueira no quintal e um colchão para sustentá-los,
enquanto admiravam o céu estrelado. A centímetros ela pôde beijar o seu
sorriso, pôde sentir a sua pele aquecida e seu batimento cardíaco, se despiram
em uma sincronia angelical, se amaram como se conhecessem há anos. Cada novo
beijo era uma sensação tão agradável que fazia com que aquele quarto fosse o
melhor lugar do mundo para se habitar. Seu abraço era
onde ela desejava estar, carinhoso, complacente, ideal. Estavam nus e a noite
parecia abrigá-los, protegê-los, apoiá-los. Em seu peito, ela podia olhar as
estrelas, eram amarelas. Ao seu toque ela se sentia viva, ela podia voltar a
amar, estava liberta! A meia noite se aproximava e a despedida era iminente.
Ela se vestiu, se despediu, e ele a deixou ir.