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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

À minha pequena



Você pode ler esse texto ouvindo essa música


Oi, minha pequena.

Você não está por aqui ainda, não respira esse ar ora poluído demasiadamente, ora relativamente fresco quando filtrado pela chuva. Fico admirando seu crescimento na barriga da sua mãe, e isso me causa às vezes mais ansiedade de contemplar o seu rostinho e sentir seus dedos pequeninos.

Quando você chegar eu planejo fazer dezenas, centenas, milhares de coisas, confesso que temo não conseguir realizar todo o planejado, mas ao pensar em você parece-me já te sentir por aqui. Acredito que serei aquele pai ciumento e protetor, espero que você releve esse meu jeito mandão e detalhista que tanto zanga a sua mãe e a faz lançar críticas com rispidez em nossas discussões esporádicas na cozinha.

Sabe, minha filha, o pai imagina que você será uma criança muito feliz, uma adolescente rebelde, porém, sensata, e uma mulher forte e inteligente. Imagino que será uma festa acompanhar o seu desenvolvimento, quero estar ao seu lado nos primeiros balbucios, nos primeiros passos e na primeira leitura de um livro.

Hoje eu escrevo acompanhado de uma taça de vinho tinto e escutando músicas de Chris Tomlin, talvez, quando você crescer e conhecer as músicas dele poderá concluir que esse não é o idioma que eu mais gosto, mas, hoje, nesse momento, são suas músicas que me trazem tranquilidade. Você saberá que seu pai gosta mais de músicas latinas, mas não despreza outros estilos, vai perceber também que gosto muito de música, ainda que não consiga tocar nem uma flauta doce ou de bisel como dizem por aqui.

Escrevo hoje da cidade de Aveiro, Portugal. Estou cursando Letras na universidade portuguesa e cá estarei por um ano. Essa oportunidade é uma grande benção e esforço do “menino grande” que a escreve. Um dia quero dizer a você que tudo é possível com esforço e vontade e que estarei ao seu lado auxiliando-a e promovendo o seu crescimento, claro, se me for permitido fazê-lo.

Filha, quando você nascer vai encontrar muitas coisas bonitas no mundo. Por favor, tente vê-las como um presente cotidiano, há também coisas não tão bonitas, mas elas serão uma grande oportunidade para você se desafiar e crescer como ser humano. Digo isso, pois é por meio dessas oportunidades de mudança que você crescerá plenamente. Você irá perceber que a solidariedade e a felicidade andam de mãos dadas, assim como eu e você nas nossas caminhadas matutinas ao parque, aos finais de semana, enquanto buscamos uma sombra fresca para ler aquela história de que você tanto gostará.

Sabe filha, às vezes é necessário saber a hora certa de falar, de pedir ajuda, de solicitar um ouvido paciente, eu vou tentar ser esse amigo ouvinte, não tema falar comigo, sinta-se à vontade, tranquila.

Nada em excesso é bom, lembre-se disso. Quero compartilhar contigo as minhas experiências e saber das suas, mas não se preocupe se você quiser manter-se reservada em qualquer assunto, não vou me incomodar.

Ah, quero que tenha em conta que sou um homem cheio de defeitos e posso, mesmo tentando não fazer isso, errar com você. Claro, me policiarei ao máximo, mas sou humano como qualquer pessoa e talvez eu possa magoar você em algum momento. Por isso, sabendo disso e refletindo exaustivamente sobre o meu comportamento cotidiano, já te peço antecipadamente: perdoe-me!

Gostaria que você crescesse entendendo que tudo é possível, mas nem tudo é permitido. Que embora queiramos muito algo, essa coisa pode não se concretizar, mas não desanime. É fato que o seu velho aqui já experimentou muitas decepções, mas acredite isso só o fez enxergar coisas maravilhosas. Não estou dizendo que você tem que adotar um espírito masoquista, não! Eu só estou tentando passar a você que nada é pra sempre e que a frustração de agora pode ser uma oportunidade de entendimento futuro.

Eu tenho tanta vontade de ler para você, ainda mais agora que estou tendo aulas de literatura Infanto-Juvenil e aprendo muita coisa interessante. Eu imagino irmos à biblioteca municipal ou aquela do shopping perto da nossa casa. Imagino comer com você na praça de alimentação e após aquele café básico, que você sabe que seu pai adora, irmos à seção infantil e ficar horas, tentando encontrar aquele livro que leremos à noite e por vários dias, porque eu sei que apetece as crianças a repetição, eu vou tentar não me cansar, mas isso pode acontecer e quando isso suceder vou pedir, gentilmente, que você leia pra mim e por favor, não fique chateada se eu ocupar a maior parte do seu travesseiro e, tampouco, me chame a gritos, peço que beije meu rosto e diga: papai, acredito que é hora de dormir com a mamãe.

Bom, eu tenho muito ainda a dizer, ou escrever a você, antes que você saia dessa bolsinha dentro da barriga da mamãe, mas por hoje isso é suficiente. Em breve você será muito bem-vinda e iremos nos emocionar com o seu nascimento, nos vemos em breve, minha querida.

2 comentários:

  1. Olha eu digo que estou estupefata! Pois não é um texto é uma carta. Um depósito de desejos, anseios que mal sabemos que Vamos ou não conseguir. Un dia de cada vez. Uma fase linda e gratificante de cada vez. Tenho que concordar quem hoje recebemos tudo que é do nosso merecimento e se tens essa percepção e sabe o poder da gratidão, será hoje e sempre um grande homem, pai, filho, amigo e etc!!!

    Um beijo!
    Ps. Uma novidade assim me deixou sem palavras...((mentira, escrevi tanto hahaha)).

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