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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Em cada pequeno desastre

Você pode ler isso ao som de Home - Gabrielle Aplin 

Boa noite, minha querida.

Escrevo para você nessa noite ao som de músicas agradáveis e de um vinho que comprei no mercado ao lado de casa. Sinto saudades, se eu estivesse perto eu não duvidaria que em seus braços sentiria aquele calor aconchegante. Ah, mas estou a um atlântico de distância e isso dificulta o contato físico. Sinto sua falta, do seu ouvido a me escutar tão atentamente, dos seus olhos a me mirar lentamente quando estou assim, como hoje.

Escrevo para contar nada além do meu estado emocional, pois já nos falamos sobre a minha rotina e ela está cada vez mais "se ajeitando", ainda com algumas novidades, mas nada que me impulsiona a escrever a você para que me tenha perto, para que eu me sinta perto de seus ouvidos a não sei o que sinto hoje.

Temo por essa carta se estender longamente, mas te peço paciência para que leia até o final, pois só por meio dela eu consigo fazer chegar a você os meus mais íntimos sentimentos.

Ela partiu. Sim, agora sinto que definitivamente, e sinto um vazio aqui dentro como se fosse uma gérbera que permaneceu naquele solitário de vidro que eu te dei há semanas. Ai, nossas metáforas! Sabe, eu tenho um sentimento de gratidão por ela, ainda que eu sofra um pouco, ainda que eu tenha abraçado o eufemismo nessa situação para tentar não te preocupar tanto. Tenho em minha companhia as nossas músicas e um vinho nacional de 2014 e entre essas coisas o meu relato.

Eu cozinhei para ela, para nós. Gosto de vê-la comer macarrão e tomar vinho, da maneira que passa o guardanapo de papel nos lábios e o seu sorriso, da maneira que sorri e pergunta: - O que você está olhando? Gosto quando os seus dedos finos e brancos de suas mãos passeiam em meus cabelos curtos, me faz sentir um arrepio e eu confesso que sinto tanta ternura que fecho os olhos e sorrio. Gostamos de grama, gostamos de nos deitar nela e sentir o vento gelado passear por nossos corpos, gostamos de conversar embaixo das árvores, tiramos fotos e depois comentamos que estamos estranhos, isso é tão mágico e me causa uma alegria que nasce ali perto da barriga e cresce até o peito, acho que isso aquece meu coração esse momento.

Hoje estou sozinho e imagino estando aí, no seu quarto, acompanhado de umas cervejas e nossas músicas. Essa imaginação me faz escrever a você como se estivéssemos frente a frente. Sinto saudades de poder te abraçar e chorar sem ninguém nos ver, pois é aí no seu "colinho" que eu sou o mais livre dos homens.

Bom, ela beijou outro cara. Sim, e eu vi. Eu não sou capaz de descrever aquela cena e tampouco dizer como eu me senti. Estávamos em um bar cheio e ela me disse: - Vou ali e já venho. Eu esperei, ela demorou, eu fui procurá-la, não devia ter feito isso.

Não estou a culpando, tampouco dizendo que isso é errado. Não, ela é livre e deve fazer o que gosta, pois é linda, livre, bonita, sensível, mulher, autônoma, inteligente. Sou eu que tenho que perceber que aquela ilusão foi a minha imaginação. Eu quero dizer que não estou bem com isso, mas estou feliz por me sentir vivo.

Ela reviveu em mim a capacidade de gostar de alguém. Foi ela que com seu carisma, suas palavras, seu toque me despertou. Hoje eu sei que aquilo que eu pensara era um mito. Eu sou capaz de sentir atração, desejo, paixão, sofrer, sorrir por ouvir a música dela (aquela que toca na minha playlist do youtube e eu acho que é dela).  

Ah, ela me permitiu ler Mário Benedetti outra vez e sentir toda aquela poesia, foi por sua permissão que sei que a vida é breve, que nada é para sempre, que sentimentos não morrem, só estão adormecidos. Ah, eu nunca pensei que escreveria novamente algo assim, tão meu.

Hoje pela manhã eu a vi, ela estava com um jeans azul justo, uma camiseta (que o meu daltonismo me priva de saber a cor exatamente), e seus cabelos cacheados úmidos dançando e exalando aquele cheiro de shampoo que denunciava um banho matinal. 

Ah, eu não sei o que sinto, acredito que o Neruda me explicaria melhor nos seus versos do poema XX: “Yo la quise, y a veces ella también me quiso.” Isso, você pode entender? Eu já a quis, e às vezes (eu acho) que ela também me quis, hoje não!


Acabou, ufa! Só escrevo essa noite a você para contar o que sinto e como é bom sentir tudo isso novamente. Não sofro muito, apenas sinto as amenidades de uma relação efêmera.  

2 comentários:

  1. Bom, first!! Que delícia le-lo de novo. Second! Esse amor a que se refere talvez seja o mais lindo e terno dos amores. O seu 'desinteresse' nos outros labios beijados denotam: seja feliz, mas as vezes voe pra mim.
    Me dêem licença, mas hoje preciso falar sobre meu amor sem amarras!

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  2. Lindo,perfeito,profundo e tão seu.... chorando rios!!!

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