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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Detrás de esa ventana


O garoto saía de casa com um pedaço de melancia na mão. Ele adorava melancia, mas não gostava das sementes que ali se espalhavam. Ao sair pela porta, uma garoa extremamente fina tomou o céu. Colocou um dos pés descalços para fora e recolheu rapidamente. Mas não por conta do respigar. Era por outro garoto que comia um pedaço de melancia, da janela de sua casa. Sentiu o coração gelar, as mãos estremecerem, as pernas ficarem agitadas e bambas. Ele já sabia que seu futuro estava ali, bem em frente da sua porta. E, por isso, sentiu-se esquisito.

Durante vários dias, o garoto ensaiou para sair de casa e pular a janela do outro garoto, que possuía covinhas. Comprou um novo tênis, penteou os cabelos, até passou perfume. Mas a garoa, a melancia, o garoto na janela, e a consciência do futuro o faziam travar. Ele não conseguia dar um passo sequer, se movimentar coordenadamente: as pernas tremiam muito, e por várias vezes caiu (!). Até que, com o vidro embaçado pelo vapor da boca, que encostava pela vontade de ver mais de perto, o garoto da janela resolveu escrever algo para ele. “Hola, quiero estar em tu vida. ¿Puedo?”.

Sem jeito, o garoto demorou a responder. Ensaiava com freqüência e pensava muito, até que o vapor simplesmente sumiu. E ele ficou triste por ter demorado a responder e deixar escorrer pelos dedos aquela oportunidade. Para sua sorte, no outro dia, o garoto da janela estabeleceu contato novamente. E mais que depressa respondeu: “Hola, yo no sé hablar español muy bien. Pero quiero que estés en mi vida, sí”. E todos os dias eles se comunicavam.

Sair da janela, caminhar até o outro lado da rua, porém, não foi uma tarefa fácil. O garoto já amava o menino da janela, mas sentia medo da sua melancia e da melancia que ele carregava. Todas possuíam muitas sementes, que eles faziam questão de exibir, cada um em sua janela. Por alguns dias de garoa, ficou de costas para a janela e até disse “No vamos a hablar”. As noites silenciavam e a amargura tomava aqueles corações, que voltavam a se unir.

Em uma tarde quente e chuvosa, decidiram brincarem juntos em frente à casa dos anjos, bem longe de suas casas. O garoto vestiu uma camiseta verde e, comendo sua melancia, ficou sentado esperando. Os ponteiros demoravam a passar e a cada minuto tentava alguma ligação com sinais de fumaça. “¿Dónde estás? Te quiero aquí”. E ele chegou. Com uma mochila das costas, covinhas evidentes, melancia na mão e sorriso mais que encantador, ele encontrou os olhos do garoto. Abraçaram-se profundamente, embora sem jeito.

Talvez eles nem tenham notado, mas a fina garoa se transformou em chuva. Afinal, os anjos daquela igreja choravam com a união daquelas almas. E assim como as gotas que brotavam do céu, todas as sementes de melancia tocavam o chão.
Neto Lucon

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