Era uma manhã de domingo, daquelas que o sol invade o seu quarto e aquece os pés da sua cama.
A
claridade permitida pela janela aberta o fez acordar como todos os
dias. Ele se levantou, se espreguiçou, escovou os dentes, fez café e
encarou aquele domingo como um dia diferente. Tomou banho, colocou o seu
tênis e resolveu caminhar um pouco para pensar. Estava decepcionado com
as pessoas, com sua vida, com a sua rotina.
O
trabalho estava demais, seus amigos também envolvidos com seus afazeres
se afastaram e ele não parecia não ter uma razão para continuar.
Caminhando pela avenida ele avistou aquela praça, aqueles bancos de
madeira, pintados de branco, a natureza em volta o convidava a sentar
ali, pensar e meditar um pouco. Aquele momento foi decisivo para ele
mudar a sua visão sobre a vida.
“Bom
dia”, ele disse àquele senhor que estava ali, sentado no banco, dando
farelo de milho aos pássaros. “Garoto, porque essa cara de pensativo?
Parece triste? Aconteceu alguma coisa?” Ele ficou surpreso pela
indagação daquele senhor, pensou se estava assim tão nítido o seu
desânimo e respondeu monossilábico: “sim”. O senhor sorriu, como se não
acreditasse naquilo. E continuaram ali por mais alguns minutos em
silêncio, até que o senhor perguntou novamente: “Você está vendo esses
passáros? Eles não se preocupam muito com o que vão comer, ou como suas
vidas, aparentemente, parecem monótonas e sem novidades, é assim que
temos que refletir sobre as nossas relações.”
E
mais uma vez o menino, de moleton e tênis, não acreditava naquele
monólogo, mas resolveu conversar com aquele simpático senhor. “Sabe,
quando você está decepcionado com as pessoas ao seu redor? Quando todos
parecem fazer coisas que você não concorda e isso afeta você de tal modo
que a sua vida pede uma mudança? Estou me sentindo assim. O trabalho
está sugando as minhas energias, não tenho tempo para fazer as coisas
que gosto, me afastei um pouco da minha família e meus amigos devem
estar também ocupados com suas rotinas inevitáveis, isso tudo está me
deixando sem perspectivas para continuar.”
O
velhinho escutou todo aquele desabafo atentamente e o perguntou se era
permitido dizer o que ele pensava, e o menino, como se pedisse isso,
abaixou a cabeça e disse um sim quase inaudível.
“Jovem,
a vida o tornará mais forte se você conhecer seus limites, se você
disciplinar suas emoções e entender as pessoas. São essas experiências
que o moldará, que o fará com que esteja pronto para novos desafios, o
que acontece com você hoje é um exercicío para alcançar degraus
superiores.
Você
precisa confiar em você, é necessário acreditar que tem um coração
forte, não precisa se envergonhar de nada, não deve se sentir impotente,
deve conhecer seus limites, isso é uma atitude sábia. Já tentou dizer
que tal trabalho você não poderá executar naquele momento?Ou
se dispor em fazer em um futuro próximo? Abraçar o mundo é um erro,
você ainda não tem toda a bagagem necessária para fazer isso, afinal
nunca podemos acreditar que podemos fazer tudo e agradar a todos, isso
se chama humildade, ela o faz reconhecer que somos pequenos, porém
capazes de fazer tudo, dentro do nosso limite.
Sobre disciplinar suas emoções e entender as pessoas, acredito ser o essencial para se sentir bem.Ninguém
é igual a ninguém, vivemos em um mundo em que nada é igual e querer que
todos ao nosso redor atendam as nossas expectativas é encarar a vida
com olhos superficiais e imaturos. Pense que as pessoas que decepcionam
você, na verdade, não decepcionaram você, mas a fantasia que você criou
de como elas deveriam agir, elas agem do modo que são e aprenderam.Foi você que criou essa fantasia e com base nessa percepção limitada e isolada, você se decepciona.
Sugiro
que mude de atitude e passe a encarar as pessoas com suas virtudes e
defeitos, que o que fazem não é para afetar você diretamente, elas
somente realizam ações conforme aprenderam, um mecanismo de viver de
acordo com os seus ideais. Entender isso é se bloquear de sentimentos de
decepção, tristeza que desmotiva e viver direcionando o seu
crescimento, aproveitando as oportunidades de lidar com conflitos e
amadurecer.”
E
o menino ouviu cada palavra do senhor, refletindo a cada frase, e
perguntou: “Seria eu assim tão ingênuo de acreditar nas pessoas e
permitir que façam coisas que me ferem?”
E
o sábio sorriu e começou a falar: “Jovem, é tão natural esse seu
questionamento, quanto é a fotossíntese para essas árvores. Não se
preocupe em pensar o que os outros pensam sobre você, afinal não temos
responsabilidade sobre os pensamentos alheios, cuide do seu caráter e em
não ferir o seu próximo, cuide de executar suas obrigações de maneira
correta, seja simples, entenda que cada indivíduo erra assim como você.
Peça desculpas se magoou alguém, seja sincero com você mesmo e acredite
que a vida só trará a você oportunidades, mesmo que no primeiro momento
você acredite que não são.Confie nas pessoas, elas são maravilhosas.
E
quanto ao amor, esse sentimento difícil de descrever e definir, sugiro
que medite sobre a frase do escritor português, Fernando Pessoa:
Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não podemos crescer
emocionalmente. Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria
solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a
dois, antes, é necessário ser um.”
E
depois de toda aquela conversa, o jovem se tornou mais confiante,
agradeceu ao senhor por suas palavras de incentivo, apertou a sua mão
direita, sorriu, levantou, e partiu para mudar a sua rotina.