Pesquisar este blog

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Folha de Bordo


Já é terça-feira, prometi que escreveria para você, é meia noite e ainda não fui dormir. Era sete de setembro um pouco depois das oito da manhã, abri os olhos devagar enquanto eu sentia que seu braço direito cobria o meu peito sem camisa, a sua cabeça levemente inclinada parecia apoiar-se na minha, a serenidade participava do seu sono e eu espiava você dormir te velando.
Você conheceu como sou pela manhã, e como é diferente dormir com um menino que é espaçoso, com pés frios e mãos geladas, que pouco a pouco se esquenta dormindo rápido. Depois de amanhecer, nos vestimos e logo depois de tomarmos aquele capuccino forte com algumas bolachas de chocolate, caminhamos por ruas largas e desconhecidas, fiquei fascinado pelo lago verde enorme, rodeado por árvores dançantes e pessoas animadas e ativas, correndo e andando ao lado dele. Encontramos aquela árvore de folhas recortadas que tem na bandeira do Canadá, se chama folha de bordo, plantada na calçada de uma bela casa no final daquela rua íngreme que subimos sob um sol quente daquela manhã de segunda-feira.
Conversamos sobre a maioria dos assuntos, ouvia atento, me revoltei quando você comentava sobre assuntos que tratamos somente com amigos, embora as suas idéias sejam inaplicáveis eu ri enquanto você classificava as minhas como quadradas e pré-históricas. Ah não me importo, ainda que haja opiniões adversas, defendo as minhas como parte de mim, do que sou, ainda que elas sejam pequenas e estreitas, aquilo que creio não renuncio. Não desejo dividir lábios, mesmo que não haja envolvimento emocional, equilibro minha libido, meu instinto. A distância separa, atrasa, porém presenteia com a calma e cautela. “A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga as velas, mas atiça as fogueiras”, assim escreveu Machado de Assis.
Observei como você data as suas folhas de música, naquela noite no cyber café, de como carimba seus livros ainda não lidos, a maneira simples com que você usa aquela camisa branca puída pra dormir, a sua preocupação em usar o secador depois do banho, a sua inibição de nudez, o desgosto em ir ao supermercado, sua paixão por óleo de oliva, fotografias, músicas americanas. Apresentei a você músicas de Isabela Taviani, Djavan, Adriana Calcanhoto, Colbie Cailat, e cantamos Sin Bandera, o meu gosto por músicas latinas é incomum, mas elas me fazem justiça quando tocadas por você, são sensíveis, e cheias dos meus atos inventados. Mais uma vez estou separado do seu abraço quente, compartilhando o tempo com a saudade embalada pelas minhas canções que recorda ao passado que acariciava seu corpo e beijava seus lábios dividindo um sofá de três lugares da sala invadida pelos raios solares daquela tarde maravilhosa.

Um comentário:

  1. Esse, eu não tinha lido! E hoje, especialmente hoje, ele me deixou sem palavras. Ele me escreveu e com isso, as recordações afloram ainda mais. Adorei , mais esse...
    besos, muchos!!

    ResponderExcluir